Camarate – Quinta da Vitória
Outubro 1914
Dia 8
Ora você sempre está um lepidóptero!...
Porque é que em vez do postal me não enviou o n.o da Restauração! Só com um livro do Júlio Dantas na ideia do seu rosto!... E a Águia, meu Querido Fernando Pessoa, que Alfredo Guimarães! Ai o L. de Vasconcelos, poeta! e a Cegueta (quero dizer: a mulher do segredo) do poeta algarvio... Ora... ora... O Resto: Teófilo & Álgebra... Nem o Parreira salva o número. Bolas!...
Então, a guerra?... Bem... bem Adeus... Até qualquer dia Lisboa. Avisarei.
Sabe o Zagoriansky queria afinal uma arte em que a gravidade não tivesse acção: «Esforço-me para que nos meus poemas – nas suas palavras, sobre as suas ideias, a gravidade não tenha acção.» E há-de sonhar na glória de libertar o verbo Ser... Nós!...
Um grande, grande abraço do seu muito amigo e certo
o
Mário de Sá-Carneiro
O Guisado fala-me na carta a que ontem me referi, dum poeta Caeiro ou o que é, que diz mal da gente e encontrou entre galegos. Se calhar é mais um lepidóptero e provinciano! Mais saudades. O
Sá-Carneiro
Até agora não vi entrevista. Julga que em Camarate há Mónacos? Última hora:
Inesperadamente vou hoje a Lisboa. Mas decerto que não terei a sorte de o encontrar! Hélas!...