Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Mário de Sá-Carneiro

O Arquivo Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), poeta modernista, inclui correspondência, cadernos e manuscritos, bem como a obra publicada no seu tempo de vida. Muitos destes documentos foram reunidos por François Castex, professor e escritor francês, e encontram-se conservados na Biblioteca Nacional de Portugal. Reúne-se aqui também o conjunto das cartas enviadas pelo autor ao seu amigo Fernando Pessoa.

Os documentos completos encontram-se no campo “PDF” e os manuscritos foram transcritos no campo “Edição”. 

 

Medium
Mário de Sá-Carneiro
Esp.115/5_42
Esp.115/5_42
Sá-Carneiro, Mário de
Identificação
Carta a Fernando Pessoa
Carta a Fernando Pessoa

Carta enviada de Camarate, no dia 6 de Outubro de 1914. 

 

 **

Camarate – Quinta da Vitória

Outubro 1914 – Dia 6

Bem, como hoje não há jornais venho conversar um pouco com você, meu querido Fernando Pessoa. Agora tenho lido – lepidopterias. La Faustin do Ed. Goncourt. Mau, penosamente. E romantismos: Balzac, G. Sand... Pasmoso! Um interseccionista!... Mas é preciso passar tempo! É verdade: não escrevo a «Elegia» para o Céu em Fogo. Guardo-a para outro livro: porque não estou em disposições de a escrever agora – e seria grande – e grande já o livro está. Escreverei só mais um conto pequeno, para ele: «Asas» talvez – que está mesmo mais de acordo com o «ar» Europeu do livro. Decididamente é as «Asas» que vou escrever qualquer dia – e assim terminarei o volume. Ficará com 8 contos: «A Grande Sombra», «O Fixador de Instantes», «Mistério», «Eu Próprio o Outro», «A Estranha Morte do Prof. Antena», «O Homem dos Sonhos», «Asas», «Ressurreição». Será um volume de 300 páginas normais. (Quero mesmo escrever as «Asas» neste volume por causa do «Além» e «Bailado, ultrapederasta assim o volume.)

O Guisado escreveu-me um soneto «Portas Cerradas». Não lho copio porque a você o mandou decerto tam- bém. Soube outro dia algumas coisas sobre o Valério por pessoa que o conhece muito bem e à família: o pai vende sementes, são Roxos – e o Valério batia na irmã para ela lhe dar dinheiro. É ela mesmo quem quase sempre o tem sustentado e à mulher. Houve tempo em que o Valério dormia nas arcadas do Terreiro do Paço... Em todo o caso é isto mesmo que faz curiosa a sua personalidade.

Qualquer dia vou a Lisboa para cortar o cabelo. Avisá-lo-ei.

Dê saudades ao Vitoriano e ao Pacheco. Escreva.

Saudo-o em paulismo (Ramos mais ou menos interseccionados) page154image47088240

 

Adeus.

Um grande, grande abraço.

 

o seu
Mário de Sá-Carneiro

 

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5771
Classificação
Espólio Documental
Correspondência
Dados Físicos
Tinta preta sobre folhas quadriculadas e sobrescrito.
Dados de produção
1914 Out 6
Inscrita.
Fernando Pessoa
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Bom
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Camarate
Documentação Associada
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Esp.115
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.