Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Mário de Sá-Carneiro

O Arquivo Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), poeta modernista, inclui correspondência, cadernos e manuscritos, bem como a obra publicada no seu tempo de vida. Muitos destes documentos foram reunidos por François Castex, professor e escritor francês, e encontram-se conservados na Biblioteca Nacional de Portugal. Reúne-se aqui também o conjunto das cartas enviadas pelo autor ao seu amigo Fernando Pessoa.

Os documentos completos encontram-se no campo “PDF” e os manuscritos foram transcritos no campo “Edição”. 

 

Medium
Mário de Sá-Carneiro
Esp.115/5_19
Esp.115/5_19
Sá-Carneiro, Mário de
Identificação
Bilhete-postal a Fernando Pessoa
Bilhete-postal a Fernando Pessoa

Bilhete-postal enviado de Paris, no dia 28 de Julho de 1914. 

 

**

 
Paris – 28 de julho 1914
 
 

Bilhete-postal – resposta à Carta Pessoal de 23-25 de julho

 

Máxima noção de erro o paulismo SANTOS, com a ideia, sem dúvida bela e do mais puro int ... da sonâmbula da vida – mas francamente ainda me assombrou mais num espanto de incoerência a aparição das quadras Férreas!... Esses bebés mandar-me-ão o livro? Diga-lhe o que aqui vai – pelo menos era para eu ver o meu paulismo a par J. de Barros!... Os sonetos que eu recebi foram aqueles que você cita. E ago- ra me recordo: eu escrevi o que lhe dizia na carta... mas numa carta que não lhe enviei e substituí por outra. Pelo menos deve ser assim pois lembro-me, lucidamente me lembro, de ter escrito a frase que lhe citei.

Pasmoso o lepidopterismo do M. N. de Melo! E julgam-se artistas singulares, incompreendidos, tais malandros!... A propósito do Pessanha: logo que puder, mas logo, rogo-lhe muito que me envie os versos a que alude. Fico ansioso por eles. E pedia-lhe, mais uma vez abusando, que, quando tiver vagar, me envie uma cópia do soneto à mãe e mesmo doutras coisas que eu já conheço, pois é para mim um grande prazer reler esses admiráveis poemas. A Europa! a Europa! Como ela seria necessária!... Fico também ansioso, sôfrego, pelas obras literárias suas e dos seus «manos» que me anuncia. Por tudo lhe peço que não as demore!... (você tem razão: o paulismo é qualquer coisa de enorme em face do fenómeno do Santos!) Dê saudades minhas a toda a essa gente que está para me escrever: Carlos de Oliveira, Vitoriano e Côrtes-Rodrigues. Aos dois últimos, vincadamente. Interessantíssimo o que de psicológico me diz de Si nesta carta. Apenas doloroso – por isso lamento essas linhas. De resto compreendo muito bem o «estado» que descreve o que tanta vez eu sinto. Peço-lhe desculpa de o estar sempre a incomodar com pedidos de cópias das suas obras, do Pessanha etc. Mas creio que você me desculpa... E repito que espero em ânsia dourada tudo isso... E francamente não sei que mais lhe diga...

Abraços ao Pacheco, de quem hoje recebi carta. Até breve, largamente – espero: em resposta, as suas obras.

Mil abraços.

O seu, muito seu

M. de Sá-Carneiro

(Saudades do Franco!...)

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5748
Classificação
Espólio Documental
Correspondência
Dados Físicos
Tinta preta sobre bilhete-postal.
Dados de produção
1914 Julho 28
Inscrita.
Fernando Pessoa
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Bom
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Paris
Documentação Associada
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Esp.115
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.