Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Mário de Sá-Carneiro

O Arquivo Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), poeta modernista, inclui correspondência, cadernos e manuscritos, bem como a obra publicada no seu tempo de vida. Muitos destes documentos foram reunidos por François Castex, professor e escritor francês, e encontram-se conservados na Biblioteca Nacional de Portugal. Reúne-se aqui também o conjunto das cartas enviadas pelo autor ao seu amigo Fernando Pessoa.

Os documentos completos encontram-se no campo “PDF” e os manuscritos foram transcritos no campo “Edição”. 

 

Medium
Mário de Sá-Carneiro
Esp.115/5_12
Esp.115/5_12
Sá-Carneiro, Mário de
Identificação
Bilhete-postal a Fernando Pessoa
Bilhete-postal a Fernando Pessoa

Bilhete-postal enviado de Paris, no dia 28 de Junho de 1914. 

 

 **

 

Paris – junho de 1914 Dia 28

Meu Querido Amigo,

 

Perdoe. E muito obrigado por tudo – sim? Não sei se ontem, na minha carta, destaquei a 9.ª ode.

Se o não fiz – faço-o agora pois, numa outra leitura, foi justamente ela que achei uma das mais formosas e das mais perfeitas. Simplesmente uma maravilha, impregnada esbatidamente de suavidade azul. Pelo mesmo correio segue a Comoedia de hoje, domingo, e rogo-lhe muitas desculpas por ser esta a 1.ª que lhe envio tendo-me esquecido os domingos passados. Torno-lhe a pedir mais desculpas e a recomendar-lhe o pedido de ontem. Se por qualquer motivo se não puderem realizar a Confissão de Lúcio, Dispersão ou os Princípios – o meu amigo realizará o que for possível enviando-me a importância. Desculpe tudo isto, de joelhos perdão!...

O Pacheco vai para Lisboa muito breve (mas não diga a ninguém) e já combinámos para arreliar os carbonários contar muitas blagues a meu respeito, sobretudo dizer que nado em dinheiro. Você gozará.

Sem mais, com todas as minhas súplicas de perdão apesar de ele ser impossível,

um grande, grande abraço do seu

Mário de Sá-Carneiro

 

 

«Apoteose»

 

Mastros quebrados, singro num mar d’Ouro

Dormindo fogo, incerto, longemente...

Tudo se me igualou num sonho rente,
E em metade de mim hoje só moro...

 

São tristezas de bronze as que inda choro –

Pilastras mortas, mármores ao Poente...

Lajearam-se-me as ânsias brancamente
Por claustros falsos onde nunca oro...

 

Desci de Mim. Dobrei o manto d’Astro,

Quebrei a taça de cristal e espanto,
Talhei em sombra o Oiro do meu rastro...

 

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5701
Classificação
Espólio Documental
Correspondência
Dados Físicos
Tinta preta sobre bilhete-postal.
Dados de produção
1914 Jun 28
Inscrita.
Fernando Pessoa
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Bom
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Paris
Documentação Associada
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Esp.115
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.