– A propósito – isto é, como sempre, a despropósito – fale-me do Guisado. É criatura ainda tratável? Fez versos em Mondariz? Eu poder-lhe-ei escrever? Informe-me a este respeito. Eu, por mim, gostava muito de lhe escrever, mas não sei o que ele tem contra mim, nem as intenções em que está! Informe-me você com toda a franqueza. Sabe bem que o Guisado será sempre para mim o admirável Poeta e o excelente rapaz toldado de Burguesia. Não hesite pois em responder-me a esta simples pergunta: – Posso à vontade escrever ao Guisado – ou é melhor não o fazer? Compreende que não estou disposto a receber dele uma carta diplomática...
Adeus, meu querido amigo.
Não me largue os livreiros – e escreva sempre o mais possível!
Um grande abraço de toda a minha alma
o seu seu
Mário de Sá-Carneiro
Vou talvez escrever uma poesia que começa assim:
– Ah, que me metam entre cobertores,
E não façam mais nada...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada –
Que não se abra mesmo para ti, se tu lá fores...
Lã vermelha, leito fofo, ar viciado –
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira:
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos d’ovos e uma garrafa de Madeira...
..................................................................
..................................................................
[É verdade, lá vai um poema duma quadra]