Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Mário de Sá-Carneiro

O Arquivo Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), poeta modernista, inclui correspondência, cadernos e manuscritos, bem como a obra publicada no seu tempo de vida. Muitos destes documentos foram reunidos por François Castex, professor e escritor francês, e encontram-se conservados na Biblioteca Nacional de Portugal. Reúne-se aqui também o conjunto das cartas enviadas pelo autor ao seu amigo Fernando Pessoa.

Os documentos completos encontram-se no campo “PDF” e os manuscritos foram transcritos no campo “Edição”. 

 

Medium
Mário de Sá-Carneiro
Esp.115/6_60
Esp.115/6_60
Sá-Carneiro, Mário de
Identificação
Carta a Fernando Pessoa
Carta a Fernando Pessoa

Carta enviada de Paris, no dia 15 de novembro de 1915. 

 

 **

Paris – Novembro 1915

Dia 15

 

Recebi hoje a sua carta de 11 que muito agradeço. Curioso que eu pensara já que você me diria não gostar do verso «seria grande estopada». Emendarei, porque estou de acordo perfeito consigo. Novidades nenhu- mas. Do Franco não sei mais nada. Muito obrigado por ter prevenido o Pacheco do que eu lhe pedia. Curioso o berbicacho da Luta. E o Pintor? Nunca mais o viu; não sabe mais nada? E Leal, Montalvor & C.ia Idem? Idem?

Recebi hoje uma carta do Pacheco – desolada como sempre, pela eterna questão das massas! Maldita coisa!

A propósito de massas: escrevi ontem (digo: antes de ontem) para a livraria, explicando que quero rece- ber o mais dinheiro possível no dia 1.o de Dezembro. Sobretudo veja-me se o Augusto acaba com a liquidação para eu saber com quanto dinheiro posso contar. Isto tem muita importância para mim. As massas, presentemente, também me preocupam bastante. Trate-me pois sem descanso destes assuntos, e perdoe-me. Outro pedido: veja-me no anuário comercial a morada do sr. António Pereira do Vale, oficial de marinha. É qualquer coisa como rua de Nossa Senhora à Graça, mas não sei o n.o Trata-se dum tio meu que vive com os meus avós da parte da minha mãe, gente de quem já lhe tenho falado. O meu avô (desta vez, avô verdadeiro: o pai do meu pai) escreveu-me que eles estão ofendidos etc. por eu não lhes ter mandado o Céu em Fogo como fiz sempre com os meus outros livros. Como isso não custa nada vou-lhes mandar um volume, daqui, mas para isso preciso saber o n.o da porta. Se porventura não encontrasse no anuário a morada não tinha importância nenhuma – não se preocupasse mais com a affaire.

Tenho muita pena de não lhe ter mais nada a dizer.

Só lhe suplico que escreva sempre, sempre, sempre.

todo um grande abraço do seu

Mário de Sá-Carneiro

 

Informe-me na volta do correio do que houver pela Livraria. 

 
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5687
Classificação
Espólio Documental
Correspondência
Dados Físicos
Tinta preta sobre papel liso timbrado ("Le Cardinal") e sobrescrito.
Dados de produção
1915 Novembro 15
Inscrita.
Fernando Pessoa
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Bom
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Paris
Orpheu, Futurismo, Modernismo
Documentação Associada
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Esp.115
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.