– Francamente tenho muito pouco a dizer-lhe neste dia astrologicamente terrível de sexta-feira e 13. Mas a propósito: Sabe que me está deveras assustando o tal sarilho do atravessamento do Sol em mau aspecto lunar? E por isto: é que as coisas me estão correndo muito razoavelmente. Com efeito veja este exemplo (e não lhe posso dar outro melhor visto tratar-se de «finanças»): esperava 40 francos da Livraria – 50 que pedira ao meu avô. Pois bem: da livraria, recebi 60 – do meu avô, 100... E eu receio mais, palavra, quando as coisas me correm bem do que quando me seguem mal! O que peço a você – não tenha receio em dizer-me, por amor de Deus – é que se debruce mais sobre os meus Astros e veja as circunstâncias que vão actuar no meu destino dos próximos meses. Quanto mais não seja para exercermos um controle que será muito interessante. Quando tiver pachorra rogo-lhe pois que se debruce – e não hesite em me informar. Combinado? Muito bem, você é um anjo.
– Na galeria Sagod, o templo cubista futurista de que lhe falei já numa das minhas cartas comprei ontem um volume: I Poeti Futuristi. É uma antologia abrangendo o Marinetti e muitos outros poetas: Mario Bétuda, Libero Altomare, etc., etc. Em acabando de ler o catrapázio (1 semana) vou-lho mandar em presente. Já lá descobri uns Fu fu... cri- -cri... corcurucu... Is-holá..., etc. muito recomendáveis. Vamos a ver... A propósito: não se esqueça por princípio nenhum de mandar com brevidade dois exemplares do Orfeu (ou 3) para o movimento futurista. A propósito: não haveria meio de saber se ainda existe – ou apenas está interrompida pela guerra – a revista internacional de literatura Poesia dirigida pelo Marinetti e, segundo anúncio incerto no volume que ontem comprei, colaborada por italianos, franceses, belgas, espanhóis e ingleses. De resto por passeiístas e futuristas: Annunzio e Verhaeren colaboraram por exemplo. Pode, por exemplo, mandar vir à minha conta pela livraria um ou dois n.os. Isso é com você. Mas estas linhas servem de ordem para o Augusto – se você quiser. Se a revista existisse – nós poderíamos muito possivelmente ser colaboradores. Por tudo isto, não deixe de enviar o Orfeu aos homenzinhos.