As duas que hoje lhe envio – uma das quais talvez já conheça pelo Ponce de Leão – afiguram-se-me menos artisticamente valiosas mas estimo-as entre as mais pelas ideias que encerram: No «Além-Tédio» sobretudo estes versos: «De as não ter e de nunca vir a tê-las, fartam-me até as coisas que não tive».
– No «Como eu não possuo» a ideia geral é esta quadra «Não sou amigo de ninguém», etc., onde está condensada a ideia duma das minhas futuras novelas A Confissão de Lúcio (perdoe «Pró» desta quadra tanto mais que será o único da plaquette pois o do «Simplesmente» – hoje «partida», foi emendado). Há outra quadra que pela sua violência me agrada muito nesta poesia e que começa: «Eu vibraria só agonizante» etc. Agrada-me a expressão «aglutinante» e «seios transtornados» bem como na quadra antecedente a «carne estilizada». Esta poesia tem talvez uma certa falta de unidade. Entanto julgo-a assim bem. É torturada, contorcida – como torturado e contorcido é o que ela pretende esboçar. Peço-lhe que me estabeleça a ordem em que todas as 12 poesias devem ser publicadas e, se tiver pachorra, a sua ordem de preferência conforme a opinião do meu querido amigo. A «Bebedeira» intitulei-a definitivamente «Álcool». Não lhe parece bem este título? Outra pergunta: Na capa do livro que pôr abaixo de Dispersão versos, poemas, poesias, 12 poemas de Mário de Sá-Carneiro, 12 poesias de Mário de Sá-Carneiro? E se se fizesse isto: 344 versos de Mário de Sá-Carneiro (344 ou o número deles, quero dizer). Isto porém, que seria novidade, é talvez (quase com certeza) de mau gosto. Indicar por fora que o livro é em verso, é forçoso pois eu sou conhecido como prosador. Ainda outro subtítulo: Série em verso. Diga o que pensa sobre isto e que pouca importância tem. (Diga-me: Seria melhor em vez de: «De embate ao meu amor todo me ruo»; «de embate ao meu ansear todo me ruo»?) Sobre esta pequeninas coisas de viva voz me aconselharei consigo.