Arquivo virtual da Geração de Orpheu

Mário de Sá-Carneiro

O Arquivo Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), poeta modernista, inclui correspondência, cadernos e manuscritos, bem como a obra publicada no seu tempo de vida. Muitos destes documentos foram reunidos por François Castex, professor e escritor francês, e encontram-se conservados na Biblioteca Nacional de Portugal. Reúne-se aqui também o conjunto das cartas enviadas pelo autor ao seu amigo Fernando Pessoa.

Os documentos completos encontram-se no campo “PDF” e os manuscritos foram transcritos no campo “Edição”. 

 

Medium
Mário de Sá-Carneiro
Esp.115/4_4
Esp.115/4_4
Sá-Carneiro, Mário de
Identificação
Carta a Fernando Pessoa
Carta a Fernando Pessoa

Carta a Fernando Pessoa, enviada de Paris, a 20 de Outubro de 1912.

 

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Paris 20 out. 1912

Querido amigo

 
 

Francamente não tenho nada de interessante a dizer-lhe. Cá vou passeando pelos boulevards como aí pelo Rossio e rua do Ouro. Simplesmente não topo nem com o Castañé das cartas amorosas nem com o eterno Ramos da «quimera»... Que coisas interessantes tem você a dizer-me? Surgiram-lhe ultimamente ideias novas? Não se esqueça de me escrever. E o inquérito da República? Têm aparecido novos polemistas? Se tiver pachorra, responda-me a isto e a mais esta pergunta: o Santa-Rita já voltou para Lisboa? Eu escrevi-lhe de cá para o Estoril.

Livros importantes não têm aparecido ultimamente. Nas montras das livrarias apenas se ostentam volumes que já havia aí e alguns novos romances policiais – literatura que há anos já é a preferida pelos leitores de todo o mundo...

Quanto a novidades literárias pessoais tenho uma a dar-lhe: Encontrei um belo episódio final para o «Gentil Amor». É um episódio doloroso, lamentável e perturbante que fechará muito bem o volume – porque segundo se me afigura quase certo a novela estender-se-á a umas três horas de leitura. O que preciso é começar a escrevê-la. Fá-lo-ei logo após me ter instalado definitivamente, o que sucederá para a semana. É mesmo melhor você não me responder a esta carta senão depois de eu lhe enviar o meu novo endereço.

Por hoje, mais nada. Isto é: resta-me falar-lhe no tempo, coisa imprescindível numa carta destas: Tem havido muita bruma, ungida de quando em quando por algum raios dourados do cálice da hóstia rubra... (sem espírito nem ofensa; você sabe muito bem quanto simpatizo e respeito a Renascença e antes de mais nada – o seu crítico).

Um grande abraço de sincero amigo
o Sá-Carneiro

 

Como vai o folheto?

Assim que receber o meu novo endereço, responda-me imediatamente!

 

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5117
Classificação
Espólio Documental
Correspondência
Dados Físicos
Tinta preta sobre 2 folhas lisas.
Dados de produção
1912 Out 20
Inscrita.
Fernando Pessoa
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Bom
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Paris
Documentação Associada
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Esp.115/4
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.