Virtual Archive of the Orpheu Generation

Mário de Sá-Carneiro

The Virtual Archive of Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), modernist poet, includes his correspondence, notebooks, manuscripts and published work during his lifetime. Most of these documents were gathered by François Castex, French intellectual, and are kept at the National Library of Portugal. Also included here are letters sent by the author to his great friend Fernando Pessoa, kept in the E3 collection of the National Library.

The full documents can be found in the 'PDF' box and the manuscripts have been transcribed in the 'Edition' box. 

 

 

Medium
Mário de Sá-Carneiro
Esp.115/7_5
Esp.115/7_5
Sá-Carneiro, Mário de
Identificação
Carta a Fernando Pessoa
Carta a Fernando Pessoa

Carta enviada de Paris, no dia 8 de Fevereiro de 1916. 

 

 **

Paris – Fevereiro 1916

Dia 8

Meu Querido Amigo,

 

Uma carta rápida para – sobretudo lhe enviar uma coisa extraordinária do Raul Leal que ontem recebi. Leia essas páginas, que chegam a ser belas, mas que são terríveis – um pesadelo sem sono, qualquer coisa de alucinante e miserável, de pôr os cabelos em pé. Tive na verdade calafrios ao ler essas páginas – determinadas passagens sobretudo. Que tragédia a dessa alma – que coisa lamentável porque, dentro do seu horror belo – é também asquerosa: e no nojo, francamente é muito difícil encontrar o belo. Leia, arquive – escusa de mandar – e diga-me o que pensa a esse respeito. Não a mostre a ninguém – claro. Outra novidade: «A intensidade do sensacionismo: A Confissão de Lúcio provoca um escândalo num café» tal a manchette que podia vir num jornal: Com efeito lia as primeiras páginas a uma rapaz Araújo – de que lhe falarei mais circunstanciadamente, pois é uma ligeira sensibilidade sensacionista – quando uns fregueses nos mandaram calar: porque falávamos Alemão!! protestei enervado, o rapaz Araújo fez-se cor de lagosta: os clientes levantaram-se todos... e tudo acabou mostrando-se o livro aos homenzinhos que ficaram passados... claro que se fosse outro livro qualquer nada disto tinha acontecido: foi por ser uma obra sensacionista! Você concorda, não é verdade?...

Por hoje mais nada. Não estou com nervos para escrever – e a minha caneta está sem tinta... perdoe-me e escreva – escreva muito! De resto esta carta foi só para lhe enviar a do Leal. Escreva!

Mil abraços.

O seu muito seu

 

Mário de Sá-Carneiro

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5832
Classificação
Espólio Documental
Correspondência
Dados Físicos
Tinta preta sobre folhas lisas timbradas e sobrescrito.
Dados de produção
1916 Fev 8
Inscrita.
Fernando Pessoa
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Bom
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Paris
Documentação Associada
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Esp.115
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.