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Fundo
Mário de Sá-Carneiro
Cota
Esp.115/5_25
Imagem
Carta a Fernando Pessoa
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Autor
Sá-Carneiro, Mário de

Identificação

Titulo
Carta a Fernando Pessoa
Titulos atríbuidos
Carta a Fernando Pessoa
Edição / Descrição geral

Carta enviada de Paris, no dia 17 de Agosto de 1914. 

 

 **

Paris – Agosto de 1914

Dia 17

Meu Querido Amigo,

 
Estou muito preocupado, muito enervado com o seu inexplicável silêncio de há mais de 15 dias! Ter-lhe-ia acontecido alguma coisa de gravidade? Não sei – e isso ainda mais me preocupa. Em todo o caso, sabendo o meu querido Pessoa como a incerteza é dolorosa para mim parece impossível que não me escrevesse ainda – nem me telegrafasse acusando a recepção da minha carta registada. Creia que fez muito mal em proceder assim fossem quais fossem as circunstâncias. Eu não me zango com você por ainda não ter recebido o dinheiro apesar da falta que ele me faz. Zango-me apenas – e muito, pela sua inadmissível falta de notícias. Tenho recebido cartas de Lisboa apenas com 1 dia de atraso – e ainda há 4 dias recebi uma carta do Guisado, também quase sem atraso. Assim não lhe posso desculpar o seu silêncio. Creia que o meu querido Amigo me tem feito mal – e, sobretudo, tem sido injusto para comigo. De resto o meu afecto por si é grande em demasia para eu não esquecer tudo isto. Mas, por amor de Deus, em nome justamente desse afecto – dê-me notícias suas (se possível por telégrafo) logo que receber esta carta. Imploro-lhe como um dever. Ofender-me-ia muito se continuasse sem me dar notícias suas. Imploro-lhe!...

Vai juntamente uma poesia que ontem concluí «Taciturno» (numa acepção paralela à dos «nocturnos» em música ou poesia). Diga-me a sua impressão – e o que é preferível: se manter o verso

«Veladas d’armas ainda em arraiais d’olvido»
um tanto incorrecto quanto a metrificação pois é preciso contar o ainda como 2 sílabas – ou trocá-lo por este, certo

«Manhãs d’armas ainda em arraiais d’olvido»
De resto o 1.o soa-me bem e acho-o talvez mais belo.

Mas você dirá!

É muito possível, mesmo certa, a minha próxima partida para Lisboa! Escrevo ao mesmo tempo a pedir dinheiro para o meu regresso imediato – e, para Lourenço Marques, ao meu Pai, pedindo-lhe para ir para o pé dele. Vê, as minhas resoluções...

Estou muito triste, muito triste! Tenha dó de mim!

Dê-me notícias suas com a maior urgência.

E receba mil abraços, mil saudades do seu, muito seu

Mário de Sá-Carneiro

Em todo o caso não conto chegar a Lisboa antes dos primeiros dias de Setembro.

Dê-me notícias suas!...
Enviei-lhe um telegrama no dia 15.

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5754

Classificação

Categoria
Espólio Documental
Subcategoria
Correspondência

Dados Físicos

Descrição Material
Tinta preta sobre folhas lisas e sobrescrito timbrado.
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
1914 Agosto 17
Notas à data
Inscrita.
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Fernando Pessoa
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Bom
Entidade detentora
Biblioteca Nacional de Portugal
Historial

Palavras chave

Locais
Paris
Palavras chave
Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Exposições
Itens relacionados
Esp.115
Bloco de notas
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.