... De repente a minha vida
Sumiu-se pela valeta...
– Melhor deixá-la esquecida
No fundo duma gaveta...
(Se eu apagasse as lanternas
Pra que ninguém mais me visse,
E a minha vida fugisse
Com o rabinho entre as pernas?...)
Isto cheira a Colete-de-Forças. Mas parece-me que, francamente, não se deve aproveitar. Fale ainda você. Antes de saber a sua opinião sobre quanto lhe pergunto – não escreverei os versos no meu caderno. A propósito de quadras «As duas ou três vezes que me abriram a porta do salão...», segundo as suas indicações, lembrei-me deste título «Campainhada». Que lhe parece?
E ponto, sobre literatura – mas não deixe de me responder a tudo isto com brevidade. Perdoe tanta estopada.
Orfeu mundial – Ontem de manhã o Carlos Ferreira veio a minha casa e pediu-me emprestado para ler um volume do Céu em Fogo que eu tinha sobre a minha mesa. Saímos, fui almoçar – e ele, que tinha que fazer, veio encontrar-se comigo, depois do almoço, num café. Contou-me então que acabara de encontrar um português Botica aqui empregado há muito. Este sujeito por acaso olhou para o livro que o C. F. tinha na mão e, ao ver o meu nome exclamou: «Ah! isso é do homem do Orfeu; hás-de emprestar-me isso!» O C. F. que lhe respondera: «não posso, porque o livro não é meu, foi o próprio autor que mo emprestou agora mesmo.» E o homenzinho, pondo as mãos na cabeça: «O quê, o Orfeu está em Paris? Co’a breca, toca a fugir rapazes!!...» Note que o C. F. era a primeira vez que encontrava este homem que vive aqui há muito tempo... E repare que só ao ver o meu nome, o efeito foi mágico: ele evocou-lhe logo o Orfeu. Não é também consolador?...