Afinal você prometeu-me uma carta para ontem – e nem ontem, nem hoje... Até agora o artigo da Ilustração não apareceu. Tanto melhor – apesar de ter piada. Outra coisa que tem piada: jantei e almocei hoje com o Hermano Neves – que me convidou para colaborador dum jornal A Tribuna que vai fazer sair no 1.o de janeiro próximo!!... Tem graça há-de concordar... Outro dia também de súbito, num music-hall, o Scala, ouvi perto de mim: «Olha, aquele é o gajo do Orfeu»... Três portugueses democráticos que nem de vista daí conheço... É curioso também, pois não é? Mesmo em Paris – tantos meses passados. Uma força, ah! sem dúvida, o nosso Orfeu. O H. Neves falou de si, dizendo que se indignou só no momento com o caso do A. C.=A. C. [sic] Que depois não o tornou a ver, senão se teria explicado delicadamente consigo, sobretudo por causa da «bebedeira» que só escreveu por estar zangado, enervado, no momento, mas de que ficou arrependido. Continua sempre a ter graça...
– Mando-lhe junto um soneto, que não me parece muito bom – sobre o eterno Erro, astro directriz da minha Sorte. (Pied-de-nez é o gesto garoto de pôr os dedos como trombeta sobre o nariz, fazendo troça.) Diga você o que pensa sobre o estuporinho. E disponha dele se o achar aproveitável para a antologia Guisado-Mira.
Mas creio bem que não. Você dirá! Por hoje – adeus.
Escreva sempre!
Mil saudades – um grande abraço