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Fundo
Mário de Sá-Carneiro
Cota
Esp.115/6_56
Imagem
Carta a Fernando Pessoa
PDF
Autor
Sá-Carneiro, Mário de

Identificação

Titulo
Carta a Fernando Pessoa
Titulos atríbuidos
Carta a Fernando Pessoa
Edição / Descrição geral

Carta enviada de Paris, no dia 3 de novembro de 1915. 

 

 **

 

Paris – Novembro 1915

Dia 3

Meu Querido Amigo,

 

Recebi ontem a sua longa e interessantíssima carta de 29 out. que de todo o coração agradeço. Foi um grande prazer, tanto mais que o seu silêncio ou o seu laconismo estenderam-se ultimamente tanto que principiava a lembrar-me se você, por qualquer motivo astral, estaria zangado comigo.

Ilusão perfeita – claro. Mas um grande júbilo a sua interessantíssima carta.

O sarilho do Orfeu-Rita desopilante a todas as bandeiras despregadas. Mestre Rita Chefe de nós. Ui! é de arrebentar! Curioso constatar isto: não podendo fazer sair o nosso Orfeu, nem armar-se em nosso chefe – Santa-Rita, renuncia à sua revista. Combine isto com o à viva força ele querer ser servilmente futurista – e não «ele-próprio»... Curioso, não é verdade! Novidades, nenhumas.

Ideia jornal com Pacheco aplaudo a mãos ruidosas. Mas, monetariamente, será possível? Oxalá... Claro que você publica de mim os versos que quiser. Disponha como se fossem produções suas. Óptimo pateada a Dantas publicamente-gente-do-Orfeu. Óptimo! – Nesta carta vão duas poesias. Eu não sei o que aquilo é ou vale. Pleno destrambelho. A desarticulação sarcástica da minha alma actual: esboçada já na «Serradura» e «Cinco Horas». Veja-me o que dá o meu horóscopo actualmente. Interessa-me imenso. Faça o possível por o examinar – e não tenha receio de me dizer o que ele acusará.

Peço-lhe isto muito: Não se esqueça. Escreva-me rapidamente, por amor de Deus. Detalhe assunto jornal que muito me interessa. Abrace por mim o Pacheco e diga-lhe que não se esqueça de responder à carta que ultimamente lhe escrevi. O Franco deve vir em licença por todo este mês conforme carta recebida hoje. Diga isto ao Pacheco e que ele está bem e lhe pede para avisar a tia.

Quanto aos meus versos: francamente diga-me se valem alguma coisa. Se assim for – e como creio que farei mais do género – farão uma parte dos Indícios com o título de «Colete-de-Forças» ou «Cabanon». Escreva! Adeus.

Mil abraços e toda a Alma do seu, seu

Mário de Sá-Carneiro

P. S.

Decididamente parece-me que os versos não prestam para nada.

Quanto a negócios da Livraria nada tenho a adiantar à minha última carta. Nos últimos dias deste mês (ou mesmo nos 1.os de Dezembro) preciso receber o mais dinheiro possível: todo seria o ideal. Vá em todo o caso falando já disto ao Augusto, a quem qualquer dia escreverei.

Mais saudades. Escreva.

o Sá-C.

 
Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5683

Classificação

Categoria
Espólio Documental
Subcategoria
Correspondência

Dados Físicos

Descrição Material
Tinta preta sobre papel liso e sobrescrito.
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
1915 Novembro 3
Notas à data
Inscrita.
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Fernando Pessoa
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Bom
Entidade detentora
Biblioteca Nacional de Portugal
Historial

Palavras chave

Locais
Paris
Palavras chave
Orpheu, Futurismo, Modernismo
Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Exposições
Itens relacionados
Esp.115
Bloco de notas
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.