Virtual Archive of the Orpheu Generation

Mário de Sá-Carneiro

The Virtual Archive of Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), modernist poet, includes his correspondence, notebooks, manuscripts and published work during his lifetime. Most of these documents were gathered by François Castex, French intellectual, and are kept at the National Library of Portugal. Also included here are letters sent by the author to his great friend Fernando Pessoa.

The full documents can be found in the 'PDF' box and the manuscripts have been transcribed in the 'Edition' box. 

 

 

Medium
Mário de Sá-Carneiro
Esp.115/6_44
Esp.115/6_44
Sá-Carneiro, Mário de
Identificação
Carta a Fernando Pessoa
Carta a Fernando Pessoa

Carta enviada de Paris, no dia 25 de setembro de 1915. 

 

 **

 

Paris 25 set. 1915

Meu Querido Amigo,

 
Recebi ontema sua carta de 20 que de todo o coração agradeço. Você tem mil razões: O Orfeu não acabou. De qualquer maneira, em qualquer «tempo» há-de continuar. O que é preciso é termos «vontade». Mas junto envio-lhe um coup-de-théâtre: a carta ontem recebida do futurista Rita-Pintor que não quer que o Orfeu acabe, e o continuará com alguns haveres que possui, caso nós nos não oponhamos etc., etc. – e contando comigo e consigo – pois já lhe não chama nomes feios!... O caso é bicudo – especialmente para você que o tem de aturar. Dou-lhe carta branca. O meu querido amigo diz-lhe o que entender, resolve o que entender. Por mim limito-me a escrever-lhe logo uma carta vaga: que sim e mais que também... Esse sarilho, resolva-o você. Claro que Santa-Rita «maître» do Orfeu acho pior que a morte. Entretanto você resolverá tudo. «Eu, aqui de longe, nada de positivo posso fazer, nem decidir» – será o tema, o resumo da minha carta ao Gervásio Vila Nova.
AGORA UMA COISA muito importante: Rasgaram-se-me as ceroulas, chove muito: tive de comprar portanto ceroulas e botas. Assim vi-me forçado a pedir pelo correio de ontem à Livraria que me enviassem 40 ou 50 francos, o mais breve possível de maneira a que eu receba as massas a 8 ou 9 (não faria mal que fosse a 10, mas aos homenzinhos convém falar assim – e, de resto, para meu sossego, quanto mais cedo melhor). Assim suplico ao meu querido Fernando que vá imediatamente à Livraria indagar se foram recebidas as minhas cartas e não me largue o Augusto. Na volta do correio, por amor de Deus informe-me do que lá lhe tiverem dito, se eu posso contar efectivamente com os 40 ou 50 francos até 8 ou 9 do próximo mês de outubro. Diga ao Augusto que eu lhe escrevi que isto tem para mim muita importância. Mace-mo todos os dias. Conto mais um vez consigo. Por amor de Deus não descure este assunto. De resto a Livraria não me faz favor algum pois o tempo é já passado de sobra até para a liquidação total do Orfeu. Isto tem para mim efectivamente uma grande importância e assim mais um vez apelo para a sua amizade. Informe-me por amor de Deus na volta do correio, num simples postal, do que lhe tiverem dito sobre o assunto. Não se esqueça. E por hoje mais nada senão esta carta estúpida de matéria.
 
Mil abraços de toda a alma.
O seu, seu

Mário de Sá-Carneiro

Escusa de reenviar-me a carta S. Rita. É verdade esqueceu-me de procurar a outra. Irá depois. Não descure assunto Livraria. Perdoe-me!

 
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5671
Classificação
Espólio Documental
Correspondência
Dados Físicos
Tinta preta sobre papel liso e timbrado ("Café Royal") e sobrescrito.
Dados de produção
1915 Setembro 25
Inscrita.
Fernando Pessoa
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Bom
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Paris
Orpheu, Futurismo, Modernismo
Documentação Associada
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Esp.115
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.