Virtual Archive of the Orpheu Generation

Mário de Sá-Carneiro

The Virtual Archive of Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), modernist poet, includes his correspondence, notebooks, manuscripts and published work during his lifetime. Most of these documents were gathered by François Castex, French intellectual, and are kept at the National Library of Portugal. Also included here are letters sent by the author to his great friend Fernando Pessoa.

The full documents can be found in the 'PDF' box and the manuscripts have been transcribed in the 'Edition' box. 

 

 

Medium
Mário de Sá-Carneiro
Esp.115/6_24
Esp.115/6_24
Sá-Carneiro, Mário de
Identificação
Carta a Fernando Pessoa
Carta a Fernando Pessoa

Carta enviada de Lisboa, no dia 26 de Julho de 1915. 

 

 **

 

Paris – Julho 1915

Dia 26

 

Meu Querido Amigo,

 

Ainda uma carta de negócios – e apelo para toda a sua amizade a fim de me satisfazer o que lhe vou suplicar – não se assuste: não é nada complicado: apenas lhe rogo vivamente que não deixe de fazer no próprio dia em que receber esta carta aquilo que vou dizer. Escrevi hoje ao Augusto para ele me informar por telegrama se me pode enviar o dinheiro da venda dos Céus em Fogo (ou outro qualquer) de forma que eu o receba impreterivelmente até 12 de Agosto o mais tardar. Você compreende bem a importância que isto tem para mim: se por qualquer motivo a transacção dos Céus em Fogo não pudesse ter sido feita e não houvesse nenhum saldo a meu favor na Livraria – precisava de arranjar dinheiro por outro lado. Assim suplico-lhe meu querido Fernando Pessoa que assim que receba esta carta vá imediatamente à Livraria falar ao Augusto, para saber o que há – e recomendar-lhe que não deixe de fazer o que na carta que hoje lhe dirijo lhe rogo: isto é: telegrafar-me imediatamente se posso ou não contar com o dinheiro até à data indicada. Você que me conhece bem, sabe como a incerteza – e especialmente a incerteza nestas coisas – me é um suplício. Assim como o maior obséquio, em nome de tudo quanto lhe mereço, lhe suplico que faça de maneira que eu não deixe de ter uma resposta telegráfica no mesmo dia em que esta carta chegar a Lisboa. É o maior favor que até hoje lhe tenho rogado – e espero assim que, por modo algum, você mo deixe de prestar. Na carta ao Augusto mandei mesmo os textos em francês dos telegramas, para as diversas hipóteses. Entretanto, se outra coisa qualquer de importante houver a dizer você redija o telegrama. Enfim deixo tudo isto ao seu cuidado. Suplico-lhe também que me escreva uma carta informando-me do que tenha acontecido em volta do Orfeu – e a sua venda, etc. Peça na livraria os n.º 2 do Orfeu que você quiser – contando que o Santa-Rita também há-de querer exemplares. Rogo-lhe que por enquanto guarde para si o endereço que lhe vou comunicar:

 

Hotel de Nice 29 rue Victor Massé

 

Repare bem em tudo quanto lhe suplico e é para mim duma importância capital. Em último caso – para prevenir todas as hipóteses – você mesmo me telegrafaria e se, porventura, não tivesse consigo a importân- cia para o telegrama pedia-a em meu nome ao Vitoriano Braga ou ao José Pacheco. Mas este caso decerto se não dará. Seja como for sempre hei-de ter na livraria saldo que chegue para o telegrama. Mas é para pre- venir todas as hipóteses. Por amor de Deus, meu querido Fernando Pessoa, não deixe de fazer no próprio dia em que receber esta carta o que lhe suplico tão vivamente. Em nome da nossa amizade: que me telegra- fem imediatamente se posso ou não contar com o dinheiro. Fico ansioso. E não deixe também de me enviar uma carta circunstanciada na volta do correio. Hoje fui ao bureau dos Italianos mas não encontrei ainda carta sua. E já havia tempo para a resposta. Enfim meu querido Amigo, peço-lhe que me perdoe todos estes incómodos – e mais uma vez lhe suplico a máxima atenção para quanto lhe rogo. Vá imediatamente à Livraria! Que não me deixem de telegrafar. Veja bem a importância que isto tem para mim.

– Mando-lhe junto uma poesia. Não sei bem o que é. Diga a sua opinião – não se esqueça.

Breve escreverei uma carta «psicológica». Estou ansioso por receber um dos seus «relatórios»! Reserve por enquanto o meu endereço – que, além de a você, só comuniquei ao Augusto.

Um grande abraço de toda a alma.

o seu, seu
Mário de Sá-Carneiro

29 rue Victor Massé Paris 9ème

Conto consigo!

 
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/5588
Classificação
Espólio Documental
Correspondência
Dados Físicos
Tinta preta sobre folhas lisas, timbradas ("Café Riche") e sobrescrito.
Dados de produção
1915 Julho 26
Inscrita.
Fernando Pessoa
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Bom
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Paris
Augusto
Vitoriano Braga
José Pacheco
Santa-Rita
Orpheu
Documentação Associada
Sá-Carneiro, Mário de, Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001.
Esp.115
Na transcrição das cartas: a ortografia foi actualizada e as gralhas evidentes corrigidas, mantendo, contudo, as elisões com apóstrofo e todas as singularidades da pontuação usada por Mário de Sá-Carneiro, bem como a forma original das datas, muitas vezes com o nome dos meses em letra minúscula ou abreviado. O título da revista Orpheu foi mantido na forma sempre usada por Sá-Carneiro – Orfeu. Foram mantidas, igualmente, as versões de versos e de outros trechos literários mais tarde corrigidos ou refundidos pelo poeta.