«Ah! como eu desejaria ser o souteneur d’isto tudo!»
Podia a ode não conter mais beleza alguma que só isto, quanto a mim, a imortalizaria.
Depois, como é belo e – de resto – de acordo com as teorias futuristas:
«Um orçamento é tão natural como uma árvore, E um parlamento tão belo como uma borboleta.»
Outra coisa enorme, duma emoção clara, e feminina, gentil:
«Up-la-ho jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!»
Ainda lhe cito como admirável, entre muitas outras, a passagem:
« A fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios» etc.
Outra maravilha o final com as suas onomatopeias.
Do que até hoje eu conheço futurista – a sua ode não é só a maior – é a única coisa admirável. O lê-la, creia, meu querido Amigo, foi um dos maiores prazeres da minha vida – pois fica sendo uma das peças literárias que mais sinto, amo e admiro. Rogo-lhe só que acredite nas minhas palavras e que elas estão longe ainda de traduzir todo o meu entusiasmo. A minha pena, confesso-lhe, é só uma: que não seja o nome de Fernando Pessoa que se escreva debaixo dela – isto apesar de todas as considerações. Não acho a ode um excerto (ou excertos). Acho-a pelo contrário – tal como está – um todo completo, perfeito em extremo, em extremo equilibrado. Depois de tudo isto, meu Amigo, mais do que nunca urge a Europa!...
Mando-lhe junto uma poesia minha. É bastante esquisita, não é verdade? Creia que traduz bem o meu estado de alma actual2 – indeciso não sei de quê, «artificial» – morto – mas vivo «por velocidade adquirida» – capaz de esforços mas sem os sentir: artificiais, numa palavra. Cada vez, meu querido amigo, mais me convenço de que escreverei dois livros: Céu em Fogo e Indícios de Ouro... Depois...? ... Não me «vejo» nesse depois...