Francamente não tenho nada de interessante a dizer-lhe. Cá vou passeando pelos boulevards como aí pelo Rossio e rua do Ouro. Simplesmente não topo nem com o Castañé das cartas amorosas nem com o eterno Ramos da «quimera»... Que coisas interessantes tem você a dizer-me? Surgiram-lhe ultimamente ideias novas? Não se esqueça de me escrever. E o inquérito da República? Têm aparecido novos polemistas? Se tiver pachorra, responda-me a isto e a mais esta pergunta: o Santa-Rita já voltou para Lisboa? Eu escrevi-lhe de cá para o Estoril.
Livros importantes não têm aparecido ultimamente. Nas montras das livrarias apenas se ostentam volumes que já havia aí e alguns novos romances policiais – literatura que há anos já é a preferida pelos leitores de todo o mundo...
Quanto a novidades literárias pessoais tenho uma a dar-lhe: Encontrei um belo episódio final para o «Gentil Amor». É um episódio doloroso, lamentável e perturbante que fechará muito bem o volume – porque segundo se me afigura quase certo a novela estender-se-á a umas três horas de leitura. O que preciso é começar a escrevê-la. Fá-lo-ei logo após me ter instalado definitivamente, o que sucederá para a semana. É mesmo melhor você não me responder a esta carta senão depois de eu lhe enviar o meu novo endereço.