Identificação
[BNP/E3, 145 – 26-26a]
Concerning imitation this may be said: that there are 2 ways of imitating which are often mistaken coarsely[1]. There is an imitation of style and there is an imitation of matter. Only the last can properly be called imitation and as such held to be reprovable. For instance, Edgar Poe invented the detective story. But though it can be said of later writers in this same style that they imitated Poe in so far as they followed his example in a new literature, it cannot be said of them that they imitated Poe, unless they, willingly or unwillingly, transcribed his thoughts, or made us use of them.
Sometimes there is so deep an imitation of style that there follows an imitation of thoughts; and it needs acumen to distinguish this imitation of thoughts from the coarser and more direct manifestation. Yet an imitation so good argues an affinity of characters in the 2 writers, imitator or imitated. Thus Villiers de l’Isle Adam did not imitate Poe in thoughts but in style.
[26v]
Thus, during the scholastic period, it is reported that the university of Paris desired to settle the question as to whether oil could be frozen. It seems natural now, and to us, that such a problem could be resolved and should be by experiment, or by observation especially as in Paris inventors are wont to be severe. But this was not the case, the worthy gentleman who deserved to know consulted Pliny and Aristotle (on the matter). I am ignorant of the result of the inquiry, but it led probably to the wrong conclusion. Such was in the scholastic period the force and the weight of authority.
The subtlety of the time is now proverbial. Many disdain it, knowing it not. Others equally ignorant are misled by the word subtlety into a false general conception. The expression seems to imply that, in that period, {…}
[26ar]
But many of these abstruse speculations regarding the nature of God, and other questions of the like wisdom, which seem to us to idle and even foolish have a deeper and a more sad explanation. It is this, that these minds, living when they did, as they did, must perforce be plunged in inquiries pointless and minute. Their schoolmistress, Tradition, had locked the door upon them, and, however much they could gamble, they gambled ever in a limited and restricted space. The great dialecticians of Elea, whose masterly speculations charm and convince by their wide scope and metaphysical extension – had these been born in these days of slavery, they had waste[2] their not doubted subtlety, not on pure problems such as those of movement – and of reality, but in questions and quodlibeta concerning the nature of God, and the attributes and affections of him. It was a pitiable waste of intellect, a misuse of reasoning which must be developed.
[BNP/E3, 145 – 26-26a]
No que diz respeito à imitação, pode dizer-se: que existem 2 maneiras de imitar que muitas vezes são grosseiramente confundidas. Há uma imitação de estilo e há uma imitação de matéria. Somente a última pode ser propriamente chamada de imitação e, como tal, considerada como reprovável. Por exemplo, Edgar Poe inventou a história policial. Mas, embora se possa dizer de escritores posteriores nesse mesmo estilo que eles imitaram Poe na medida em que seguiram o seu exemplo numa nova literatura, não se pode dizer deles que imitaram Poe, a menos que, voluntária ou involuntariamente, transcrevessem os seus pensamentos, ou tivessem feito uso deles.
Às vezes há uma imitação tão profunda de estilo que se segue uma imitação de pensamentos; e é preciso perspicácia para distinguir essa imitação de pensamentos da manifestação mais grosseira e directa. Contudo, uma imitação tão boa apresenta uma afinidade de personagens nos 2 escritores, imitador ou imitado. Assim, Villiers de l’Isle Adam não imitou Poe nos pensamentos, mas no estilo.
[26v]
Assim, durante o período escolástico, relata-se que a universidade de Paris desejava resolver a questão de saber se o óleo poderia ser congelado. Parece natural agora, e para nós, que tal problema possa e deva ser resolvido pela experiência, ou pela observação, especialmente porque em Paris os inventores costumam ser severos. Mas não foi esse o caso, o digno cavalheiro que merecia saber consultou Plínio e Aristóteles (sobre o assunto). Ignoro o resultado da investigação, mas provavelmente levou à conclusão errada. Tal era no período escolástico a força e o peso da autoridade.
A subtileza da época é agora proverbial. Muitos desprezam-na, não sabendo nada dela. Outros igualmente ignorantes são enganados pela palavra subtileza numa falsa concepção geral. A expressão parece implicar que, nesse período, {…}
[26ar]
Mas muitas dessas especulações abstrusas sobre a natureza de Deus e outras questões de semelhante sabedoria, que nos parecem ociosas e até tolas, têm uma explicação mais profunda e mais triste. É isso que essas mentes, vivendo quando viveram, como viveram, devem forçosamente mergulhar em indagações inúteis e minuciosas. A sua professora, a Tradição, havia trancado a porta sobre eles e, por mais que jogassem, jogavam sempre num espaço limitado e restrito. Os grandes dialécticos de Eleia, cujas magistrais especulações encantam e convencem por seu amplo alcance e extensão metafísica – se tivessem nascido nestes tempos de escravidão, teriam desperdiçado a sua subtileza inquestionável, não em problemas puros como os do movimento – e de realidade, mas em questões e quodlibeta sobre a natureza de Deus, e os seus atributos e afecções. Foi um lamentável desperdício de intelecto, um mau uso do raciocínio que deve ser desenvolvido.
[1] coarsely /[grossly]\
[2] waste /use\