Identificação
[BNP/E3, 144 – 81]
{…} estilos, a súbita explícita e implícita e figura imprópria para regra e modelo de composições poéticas.
Uma época que busca modelos e regras não é uma época poética, porque tal subserviência a leis está em contradição com a natureza psicológica da inspiração poética cujas |únicas| leis são os cânones psicológicos e eternos da sua natureza que natural e inconscientemente a circunscrevem, latamente, com as 2 fronteiras que não deve passar – dum lado o prosaísmo, de outro lado o delírio. Outras leis não pode a poesia ter, como inspiração poética; mas todo o homem de gosto as tem 2 que, aprendendo e estudando, faça mais que as desenvolver em si; todo o homem de verdadeiro génio as tem, acrescidas daquela força individual e pessoal a que se chama originalidade.
Versos, mentalmente já, na sua própria essência e origem mental, a poesia em moldes certos que não são leis psicológicas, mas leis arbitrárias, próprias dum período é manifesta a ignorância do que é poesia e do que é inspiração poética. É um despotismo inconcebível, idêntico ao despotismo, em filosofia, da igreja, atrofiado. Todo o alto pensamento metafísico por lhe pôr limites certos, forçando não só a não se manifestar além de tais pontos dogmaticamente arbitrários, mas a não sair mesmo em si, nas suas íntimas e inexpressas operações mentais, do molde em que a fé o vasa. A mesma comparação se poderá fazer com referência à ideia monárquica.
Por isso a definição que Victor Hugo deu do romantismo: o liberalismo na literatura é exacta, posto que retoricamente concisa.
[81v]
Clássico foi Milton, de quem já falámos, clássicos † e Gray de que falaremos. Já dissemos, no lugar próprio, a razão porque Milton é um clássico; não a repetiremos, claro está, a respeito dos outros dois. Nessa razão que imbuída, naturalmente, a razão porque Shakespeare e a sua escola o não são.