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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14-1 – 86-87
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[Sobre a nova poesia portuguesa]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre a nova poesia portuguesa]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 141 – 86-87]

 

Com Antero de Quental quedava estabelecida a base filosófica para a arte nacional. Essa base filosófica era a visão da natureza por dentro, de dentro. Com Guilherme Braga, João de Deus, Antero, Junqueiro (na 1ª fase mesmo), Gomes Leal, Cesário Verde, ficávamos, de vez, com uma literatura, uma tradição literária própria, nem aconchegadamente popular como em Gil Vicente, nem formalmente estrangeira como em Camões, nem bastantemente |liberta| como nos três poetas do nosso chamado “romantismo”. Guilherme Braga dera-nos a firmeza elevada da arte, a solidez, qualquer coisa de oposto ao frouxo, ou fácil, ao nem profundo, nem intenso, nem artístico. Antero trouxera-nos, para sempre, a profundeza, uma profundeza nossa, própria de nós. João de Deus dera-nos um lirismo terno despido de pieguice ou frouxidão individual, {…}. Gomes Leal contribuíra com a energia, a exuberância imaginativa. Cesário Verde trouxera – utilíssimo elemento – a visão à nossa poesia, à nossa literatura; ele, primeiro, nos ensinou a ver, a epitetar. Com esta plêiade precursora estava criada uma literatura portuguesa. Já tínhamos em nós, dentro de nós, sem necessidade de ir ao estrageiro uma tradição literária com elementos de onde construíssemos; alargando e aprofundando, a

 

[86v]

 

nossa verdadeira literatura. Para sermos poetas já não tínhamos que ir filiar-nos em correntes estranhas, nem em correntes longínquas e frouxas (como a dos nossos quinhentistas e seiscentistas). Tínhamos uma tradição portuguesa, próxima, individualizada.

Mas não tínhamos descoberto ainda completamente; íamos apenas a caminho de nossa alma. A terra não estava ainda à vista. Como a avistaríamos?

É simples de pós-prever.

Integrados na civilização europeia, seguíamos a marcha dessa civilização. Em contacto nela, com a nação francesa, tínhamo-nos ido encontrando. Para nos encontrarmos em toda a superfície de nós, era preciso que desse povo por onde tirávamos a alma civilizacional moderna nos viesse uma última influência, completamente nacionalizadora, já que influências individualizadoras tínhamos recebido.

 

[87r]

 

Baseados da nossa, já estabelecida tradição literária, influenciados através do simbolismo francês, pelo espírito de vago, sonho e dúvida da época, três correntes apareceram, não coincidentemente para o caracterizarem, mas para o sociólogo, assentes cada qual, além de naqueles 2 elementos, em um outro, diverso em cada caso, individualizador deles.

A primeira corrente, cujo representante principal foi Eugénio de Castro, partiu da nossa base já fixa, floresceu ao contacto do simbolismo e acrescentou-lhe uma influência da mais longínqua tradição – quinhentista.

A segunda tomou directamente para si o |simbolismo|, intensificando-o, tornando-o mais ele. É aquele representado por Camilo Pessanha, e em parte por António Osório de Castro indirectamente talvez por reatar a lógica dos cancioneiros.

A terceira foi buscar o terceiro elemento, não ao nosso passado longínquo, não a qualidades individuais coincidentes ou intensificadoras do |simbolismo|, mas à alma nacional directamente, ao povo. Foi a corrente que produziu em primeiro lugar António Nobre, em segundo o Guerra Junqueiro dos Simples. Foi esta que encontrou por fim a nossa alma. Daqui é que parte tudo o que se segue e tem alto valor.

 

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Literatura
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