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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14E – 61-63; 144 – 18-18a
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Oscar Wilde
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Oscar Wilde
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14E – 61-63; 144 – 18-18a]

 

Oscar Wilde

 

His attitude towards life was threefold, and threefoldious symbolic. He was a dandy and a specially conscious and complex dandy; he was an utterer of paradoxes; and he was a preacher of self-indulgence and of pleasure, a preacher of these things as of a cult[1].

The peculiar philosophical significance of dandyism has been touched upon deeply by Carlyle, and less so by Jules Lemaître, passim in reference to Barbey d’Aurevilly.

The modern phenomenon of paradox is only the thin and felt edge[2] of that body which in its broader breadths takes in pragmatism, intuition and all those other forms of modern evidentness included scepticism, that is to say, confession of disbelief in logic to explain life and in life to explain logic|, in reality to square itself with identity, of social impulses to fall into him with individual tendencies.|

 

[61v]

 

He was essentially temporary. He will survive a Johnson, but more literarily graven than Johnson, as a symbolic figure, limited to symbolizing, without anything but the symbolic in him. He has no individuality. His true dictum “most people are other people” stands by its author, |descriptively|. All Wilde was, as logicians would say, not-Wilde. He had no center.

 

[62r]

 

Wilde was socially, not superiorly representative, a Johnson not a Voltaire of his time. The three things he was, he was not with that full consciousness of those that could have made him a genius indeed. He was a dandy, of real life, not a dandy in literature, except incompletely and by reflexion. He was a paradoxer, but not the strong reason to make his paradoxes, even written, more than momentary: the power to be far-reaching was not in him, as it was not in his opposite analogue Johnson. He was a defender of pleasure and self-indulgence, but neither his work nor his life betray him a whole man in this. He was not strong enough to be really bad or really good; not clear enough to be really logical and coherent or really scattered and {…}; not independent enough to be either a victor over social forces in himself, or ever himself as in opposition to social forces. He was the person symbolically therefore. Our age is an age of bold cowardice, shallow

 

[63r]

 

profundity of thoughts, violent individualism moulded and cross-moulded by string and {…} currents of opinion, social movements, snatching up into limitation of individuality self-pleased independent thinking.

The anarchistic character of Wilde is the more anarchistic because it is not completely anarchistic. A thoroughly anarchistic thing – a social state or {…} – is immediately suicidal.

 

_______

Such a man as Wilde could not be loyal; neither could he be disloyal. He had not the character to be loyal, nor the courage to be a real scoundrel. He is representative in this, painfully symbolical.

To represent him as a good and caring man as Mr. Sherard does is to misunderstand him; to call him a “devil”, author of “devils” and Mr. Crosland does, is to misunderstand him. He was neither. He could not be good and dared not be bad. The tragedy of his life is in this.

 

[144 – 18v]

 

He was an indifferent poet, a fairly good playwright and an interesting novelist. I do not think that honesty can speak more praisingly of him.

 

[144 – 18ar]

 

{…} indignations, issued from the shows and novels of the moral sense {…}

Everybody knows now that much of anti-aristocratic feeling went into the matter, that there was much more purpleness in it.

 

{…} (Quote Sherard – spit) {…}

 

The only {…} consolation that a decent {…} can have is that the same citizen who spat twice in Wilde’s face could have (in all coherence) spat ten or twelve in the face of the author of Shakespeare’s sonnets.

_______

As a preacher of pleasure, self-indulgence and anarchistic individualism he is especially useful as counter-excess influence to that crushing of the in-

 

[144 – 18r]

 

dividual of which one manifestation is the growing state-intervention another {…}

 

Eugenics

_______

As an utterer of paradox, he is {…}. He is a pioneer by destruction. Others and greater men – the true men of genius – will build; these destroyers prepare the way.

_______

As a dandy he was at least ornamental.

 

 

[BNP / E3, 14E - 61-63; 144 - 18-18a]

 

Oscar Wilde

 

A sua atitude perante a vida era tripla e triplamente simbólica. Ele era um dândi e um dândi especialmente consciente e complexo; ele era um enunciador de paradoxos; e era um pregador da auto-indulgência e do prazer, um pregador dessas coisas como de um culto.

O significado filosófico peculiar do dandismo foi tocado profundamente por Carlyle, e de um modo menor por Jules Lemaître, passim em referência a Barbey d'Aurevilly.

O fenómeno moderno do paradoxo é apenas o limite fino e sentido daquele corpo que nas suas amplitudes mais vastas inclui o pragmatismo, a intuição e todas as outras formas de evidência moderna incluindo o cepticismo, isto é, a confissão de descrença na lógica para explicar a vida e na vida para explicar a lógica |, na realidade para se enquadrar com a identidade, dos impulsos sociais para cair nele com tendências individuais.|

 

[61v]

 

Ele era essencialmente temporário. Ele sobreviverá a um Johnson, mas mais literariamente esculpido do que Johnson, como uma figura simbólica, limitada a simbolizar, sem nada além do simbólico nele. Ele não tem individualidade. O seu verdadeiro dito “a maioria das pessoas é outras pessoas” é representativo do seu autor, |descritivamente|. Todo o Wilde era, como diriam os lógicos, um não-Wilde. Ele não tinha um centro.

 

[62r]

 

Wilde era socialmente, não superiormente representativo, um Johnson, não um Voltaire de seu tempo. As três coisas que ele era, ele não era com aquela plena consciência daquelas que poderiam tê-lo tornado um génio de facto. Ele era um dândi da vida real, não um dândi da literatura, excepto de forma incompleta e por reflexo. Ele era um criador de paradoxos, mas não o forte motivo para tornar seus paradoxos, mesmo escritos, mais do que momentâneos: o poder de ser abrangente não estava nele, como não estava em Johnson, o seu análogo oposto. Ele era um defensor do prazer e da auto-indulgência, mas nem o seu trabalho nem a sua vida o traíam como um homem inteiro nisso. Ele não era forte o suficiente para ser realmente mau ou realmente bom; não era claro o suficiente para ser realmente lógico e coerente ou realmente disperso e {…}; não era independente o suficiente para ser um vencedor sobre as forças sociais em si mesmo, ou até sobre ele mesmo em oposição às forças sociais. Ele era a pessoa simbolicamente, portanto. A nossa época é uma época de cobardia ousada, profundidade de pensamentos superficial,

 

[63r]

 

individualismo violento moldado e cruzado por linhas e {…} correntes de opinião, movimentos sociais, arrebatando a limitação do pensamento independentemente auto-satisfeito da individualidade.

O carácter anarquista de Wilde é ainda mais anarquista porque não é completamente anarquista. Uma coisa completamente anarquista - um estado social ou {…} - é imediatamente suicida. 

_______

Um homem como Wilde não poderia ser leal; nem ele poderia ser desleal. Ele não tinha carácter para ser leal, nem coragem para ser um verdadeiro canalha. Ele é representativo nisso, dolorosamente simbólico.

Representá-lo como um homem bom e atencioso, como o faz o Sr. Sherard, é interpretá-lo mal; chamá-lo de “demónio”, autor de “demónios” e o Sr. Crosland fá-lo, é entendê-lo mal. Ele não era nenhum dos dois. Ele não podia ser bom e não ousava ser mau. A tragédia de sua vida está nisso. 

 

[144 - 18v]

 

Ele era um poeta indiferente, um dramaturgo bastante bom e um romancista interessante. Não acho que a honestidade possa falar mais elogiosamente dele. 

 

[144 - 18ar]

 

{…} indignações, emanadas dos espectáculos e romances do sentido moral {…}

Todos sabem agora que muito do sentimento anti-aristocrático entrou no assunto, que havia muito mais pureza nisso.  {…}

 

(Citar Sherard - cuspo) {…} 

 

O único {…} consolo que um decente {…} pode ter é que o mesmo cidadão que cuspiu duas vezes na cara de Wilde poderia ter (com toda a coerência) cuspido dez ou doze na cara do autor dos sonetos de Shakespeare.

_______

Como um pregador do prazer, auto-indulgência e individualismo anarquista, ele é especialmente útil como influência de contra-excesso para o esmagamento dos in- 

 

[144 - 18r]

 

divíduos de quem uma manifestação é a crescente intervenção estatal outra {...} 

 

Eugenia

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Como enunciador do paradoxo, ele é {…}. Ele é um pioneiro da destruição. Outros homens maiores - os verdadeiros homens de génio - construirão; esses destruidores preparam o caminho.

_______

Como um dândi, ele era pelo menos ornamental.

 

 

 

[1] cult /cultus\

[2] edge /end\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3840

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

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Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
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Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Pauly Ellen Bothe, Apreciações literárias de Fernando Pessoa, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2013, pp. 301-303.
Exposições
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