Fernando Pessoa - Teoria Literária
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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14E – 50-51
Imagem
BNP/E3, 14E – 50-51
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre Cesário Verde]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14E – 50-51]

 

Confunde o crítico, no primeiro assomo de análise, o problema de que beleza haverá nesse trivial. Que parte de emoção estética é, por exemplo, uma enxó de martelo, {…}

Em si nenhuma beleza têm estas coisas. Não têm, mas é que não é em si que o poeta as canta; não as canta como objectos, mas como pontos de contacto do seu sentimento com o mundo exterior. É como {…}

Essa coisa em si inestética que é uma luva pode, por ser de uma amante perdida ou morta, uma fonte do que de mais sentimental há no sentimento. – Cesário não canta a enxó de martelo. Canta, por intermédio dela, os tempos passados, os seus tempos passados, e felizes, e a sua saudade deles.

 

[50v]

 

Um espírito superficial tomará como pormenor curioso da obra de Cesário o cantar ele a cidade e também o campo. O mais curioso deste pormenor é ser ele[1] falso. Cesário não canta nem as cidades nem os campos. Canta a vida humana, e canta nos campos e nas cidades, em relação à natureza livre dos campos e a |natureza artificial| das cidades. Poderá parecer que é um amante do minucioso na natureza. Mas uma comparação ainda que ligeira, como os que amam e |pintam| minuciosamente a natureza, mostra, pela nenhuma parecença com Cesário, mesmo no modo de descrever, que Cesário não é deles. Assim, exaltado entre os ingleses, por terem no mais alto grau o amor minucioso da natureza, flores, {…}, vemos que Chaucer diz {…}; que Spenser canta {…}; que Wordsworth {…}; que Shakespeare {…}.

 

[51r]

 

Ora o que é curioso nestes amantes minuciosos da natureza é que são minuciosos só nos campos; quando pintam coisas das cidades, pintam conjuntos, {…}, coisas que se aproximam da natureza, que se {…} naturais. É que são amantes da natureza, e por isso amantes minuciosos onde a minucia é natural, e de conjuntos onde só o conjunto é natureza. Milton, que também tem, no Lycidas um trecho célebre e maravilhoso sobre flores, não dá da vida citadina mais que notas de conjunto, como em Rousseau: {…} love of men. |“|Shakespeare|”| descreve todo o homem.

Há só um poeta, e um poeta inglês, que se pode aproximar de Cesário. É Crabbe. Mas Crabbe, que representa uma das linhas de reacção contra o luxo |lírico heteroclássico|, tem |outra orientação artística.|

 

 

[1] ser /que\ ele /é\

Notas de edição

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

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Locais
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Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Cesário Verde, Cânticos do Realismo e Outros Poemas. 32 Cartas, Prefácio de Fialho de Almeida, Estudo crítico de Fernando Pessoa, Edição de Teresa Sobral Cunha, Lisboa, Relógio D’Água, 2006, pp. 231-232.
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