Imprimir

Medium

Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14D – 45-46
Imagem
Poe.
PDF
Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Poe.
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14D – 45-46]

 

Poe.

 

An interesting point and one worthy of some investigation is the idea of silence in Poe’s works, a horrible idea, yet one he often uses. Yet I believe it has an explanation. It is necessary to begin by sound that we may get to silence.

The auditory sensation is, it is easy by a little reflection to see, linked closely to the sentiment of fear. The hearing is the sense by which fear enters into the brain[1]. A nervous person is startled, very little by touch and sight, and much by sound. To one who fears the storm – apart from consideration of its danger and impotency in a whole – the thunder is the more terrible part. A child that blinks at a bright light cowers at a sharp sound. Again in the highest state of human fear, in the mania of persecution, the patient hears voices, hears threats – all fear comes to him by sounds. |If later he sees visions, it is only later and I believe constructed out of the sound-illusions|. Thus we see how fear-hallucinations are linked to sound-illusions.

(But there are visions -)

 

[45v]

 

Further cases can be found in clinical and even literary biography confirmation of this, if any |clinical| confirmation be needed for that which everyone sees. Schopenhauer, for instance, who was a man all fear, suffered from hyperacusia, that is to say, excessive susceptibility to noises. The 2 things are ever together.

Musicians are of all men the most nervous constitutionally to their art; though their character may be otherwise, {…}

 

A very great susceptibility to music is accompanied – I almost dare say – by a very great susceptibility to fear. Of course the converse does not hold; what holds is that when there is a great susceptibility to fear there is a great susceptibility to sound.

 

The nervous man lives with sound; not that sounds are agreeable to him, but that they are whether he be conscious of it or not, a part of sensation most necessary to him.

Therefore the suppression of sound, i.e. absolute silence is, practically, for him the idea of death, or rather the tangible form (so to speak) of that idea. The silence of the dead body they notice at once; anyone does, but they especially.

 

[46r]

 

We know sufficiently Poe’s sensibility to music and his perpetual dwelling on the rhythmic side of poetry; in his definition of this, he does not forget that “a rhythmic creation of Beauty.”

 

 

[BNP / E3, 14D - 45-46]

 

Poe.

 

Um ponto interessante e digno de alguma investigação é a ideia de silêncio nas obras de Poe, uma ideia horrível, mas que ele usa frequentemente. Contudo, acredito que existe uma explicação. É necessário começar pelo som para que possamos chegar ao silêncio.

A sensação auditiva está, como facilmente vemos com um pouco de reflexão, intimamente ligada ao sentimento de medo. A audição é o sentido pelo qual o medo entra no cérebro. Uma pessoa nervosa assusta-se muito pouco com o toque e a vista, e muito com o som. Para quem teme a tempestade - além da consideração do seu perigo e da impotência no seu todo - o trovão é a parte mais terrível. Uma criança que pestaneja diante de uma luz brilhante amedronta-se diante de um som agudo. Mais uma vez, no mais alto estado de medo humano, na mania da perseguição, o paciente ouve vozes, ouve ameaças – todo o medo lhe chega por meio de sons. |Se depois ele tem visões, isso só ocorre mais tarde e creio que construído a partir das ilusões sonoras|. Assim, vemos como é que as alucinações do medo estão ligadas às ilusões sonoras.

(Mas há visões -)

 

[45v]

 

Outros casos podem ser encontrados na confirmação clínica e até mesmo literária disso, se alguma confirmação |clínica| for necessária para aquilo que todos vêem. Schopenhauer, por exemplo, que era um homem com muito medo, sofria de hiperacusia, isto é, de excessiva susceptibilidade a ruídos. As 2 coisas estão sempre juntas.

Os músicos são, de todos os homens, os mais nervosos em relação à sua arte; embora seu carácter possa ser diferente, {…} 

 

Uma susceptibilidade muito grande à música é acompanhada - quase ouso dizer – de uma susceptibilidade muito grande ao medo. É claro que o contrário não é válido; o que é verdade é que, quando existe uma grande susceptibilidade ao medo, existe uma grande susceptibilidade ao som. 

 

O homem nervoso vive do som; não que os sons lhe sejam agradáveis​​, mas eles são, esteja ele ou não consciente disso, uma parte da sensação que lhe é mais necessária.

Portanto, a supressão do som, ou seja, o silêncio absoluto é para ele, do ponto de vista práctico, a ideia de morte, ou melhor, a forma tangível (por assim dizer) dessa ideia. Eles notam imediatamente o silêncio do cadáver; qualquer um nota, mas eles especialmente.

 

[46r]

 

Conhecemos suficientemente a sensibilidade de Poe para a música e a sua permanência perpétua no lado rítmico da poesia; na sua definição disso, ele não esquece “uma criação rítmica da Beleza”.

 

 

 

[1] brain /mind\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3293

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

Palavras chave

Locais
Palavras chave
Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Edgar Allan Poe, Principais poemas de Edgar Allan Poe, Introdução de Fenando Pessoa, Traduções de Fernando Pessoa e Margarida Vale de Gato, Edição, Prefácio e Notas de Margarida Vale de Gato, Lisboa, Guimarães, 2011, pp. 190-192.
Exposições
Itens relacionados
Bloco de notas