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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14D – 17
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[Sobre Edgar Allan Poe]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre Edgar Allan Poe]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14D – 17]

 

Edgar Allan Poe nasceu em.........; Estado de Virgínia, Estados Unidos da América, a {…} de {…} de 1809. Era filho de actor e actriz, ambos sem relevo na arte. Pai e mãe morreram cedo, e o pequenito foi adoptado por um homem rico chamado Allan; de aí a adopção secundária deste apelido. A vida de Edgar Allan Poe foi breve e triste, |em parte por culpa própria|. Casou em...... com sua prima Virginia Clemm, que morreu cedo. O profundo desgosto dessa perda agravou nele a já acentuada tendência alcoólica, mercê do que, sem dúvida, a própria vida se lhe abreviou. Hipernervoso, por vezes quase louco, as suas relações com os outros começando pelo pai adoptivo eram como é de supor sempre tumultuosas e instáveis; e, visto que não era nem, que fosse, se conservaria, rico, a sua situação económica correspondentemente instável. Foi jornalista, e colaborador e director de revistas, mas sempre incerta, irregular e ocasionalmente. Morreu de {…} de {…} de {…}, num hospital de {…}, para onde foi levado de ser encontrado caído na rua, não se sabe se em extrema embriaguez, se vítima de doença, dessa ou doutra origem.

 

O que distingue acentuadamente a personalidade mental de Poe é a coexistência nele de uma imaginação fantástica e alucinante, de extraordinária subtileza e eteridade, e um raciocínio frio, claríssimo, maravilhoso na análise como na síntese. Foi isto que permitiu que, a par de autor [de] poemas estranhos e por fim delirantes[1], o fosse, em prosa, não só de contos que se assemelham em natureza aos seus poemas, de críticas notáveis pela compreensão lógica dos assuntos, e de novela de dois géneros que exigem a posse ou de uma objectividade racional, ou de um raciocínio rígido e frio – a novela pseudocientífica e a novela policiária. Desta aliás foi não só autor mas criador. Na primeira foi seguido e excedido por Verne e Wells; na segunda, porém, nunca foi excedido, nem sequer igualado, salvo talvez por E. C. Bentley no “Trent’s Last Case”. Há que notar, contudo, que as qualidades de raciocinador nunca o abandonaram, e é por isso que ainda nos mais delirantes dos seus poemas que são os últimos há sempre um fio condutor lógico, uma íntima e inevitável[2] harmonia.

 

[17v]

 

A colecção ANTOLOGIA é uma série de pequenos volumes formando cada um uma selecta de poemas de determinado poeta ou corrente poética. Os poetas que figurarão na ANTOLOGIA serão, ou poetas estrangeiros, ou poetas portugueses pouco conhecidos mas dignos de o ser, Publicar-se-ão por mês dois volumes de ANTOLOGIA, sendo um relativo a um poeta português, outro a um poeta estrangeiro. As traduções dos poetas estrangeiros obedecerão sempre à norma rígida que deve seguir-se na tradução de poemas – a absoluta conformidade com o ritmo e a maneira de rimar (ou não rimar) do original. No caso de poetas cuja obra dê azo a dela se extrair mais que um volume, mais[3] que um será publicado, mas haverá bastante espaço entre dois volumes desses. Quer no caso de poetas portugueses, quer no de estrangeiros, a escolha será uma escolha em todo o sentido: só o que é inequivocamente[4] bom será traduzido ou transladado.  

 

 

 

[1] delirantes /desvairados\

[2] inevitável /inexpugnável\

[3] extrair/(em)\ mais /(de)\ que um volume, mais /(de)\

[4] inequivocamente /indiscutivelmente\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3266

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Dedicatário
Destinatário
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Proprietário
Historial

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Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Publicação parcial: Rita Patrício, Episódios - Da Teorização Estética em Fernando Pessoa, Braga, Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, 2008, pp. 402-403 [cf. Rita Patrício, Episódios - Da Teorização Estética em Fernando Pessoa, Vila Nova de Famalicão, Húmus, 2012, p. 441].
Publicação integral: Jerónimo Pizarro, Margarida Vale de Gato, in «Poe ou a Loucura Metódica», Jornal i, 3 de Dezembro de 2009, p. 40.
Exposições
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