Identificação
[BNP/E3, 14B – 58]
Eugénio de Castro.
Há uma parte da melodia, uma parte íntima, recôndita que sentimos que ele não dá: atinge às vezes a perfeição, mas essa perfeição não tem um cunho de absoluta. “Hermafrodita” é – ninguém negará – uma obra perfeita. Leia-se, contudo, depois desta poesia a “Canção Perdida” de Guerra Junqueiro e sentir-se-á como esta última atinge alguma coisa superior. O que é? A resposta é simples: o autor de “Canção Perdida” vibra todo com a beleza; ora Eugénio de Castro vibra apenas intelectualmente; vê, compreende, ama a beleza, sente-a, mas não a aprofunda; a alma da beleza nunca ele pediu para lhe ser aberta.
[58v]
Por isso no verso do sr. Eugénio de Castro há um não sabemos que de glacial e rígido; são versos rigidamente modelares. São perfeitamente pagãos. É o sentimento pagão único que os atravessa.
Não há a proximidade de Junqueiro, não há calor, há ardor.
Concluamos: para nós o Sr. Eugénio de Castro é um esplendido, um maravilhoso poeta. Mas não é um grande poeta. Pode ser que o venha a ser. Até hoje não foi admitido no último céu da inspiração.
_______