Identificação
[BNP/E3, 14B – 42]
Alberto Caeiro - Águia
A meu ver, precisamente o que é grande no sr. Alberto Caeiro é o modo como utiliza os métodos da poesia espiritualista e idealista para nos mostrar completamente bela a sua poesia materialista.
Tivesse o sr. Alberto Caeiro feito poesia absolutamente materialista, e veria como até o próprio materialismo da sua poesia[1] sofreria. |É aos armazéns do misticismo e do espiritualismo que a sua Musa vai buscar com que se engalane.|
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Alberto Caeiro é um dos maiores poetas da nossa época e da nossa terra. Só uma incompreensão da sua magnitude e da originalidade da sua obra, ou uma aversão idiota por ela, podem esconder isto a qualquer pessoa competente para ter opiniões críticas.
A sua obra é assombrosamente original. Mesmo supondo ao seu autor uma cultura que abranja ter lido Whitman – isso, e é aqui que o valor dela se verifica – nada nos
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explica como derivada, salvo, possivelmente, a forma do verso. Mas esta é, na verdade, tão casada com a forma da ideação de Alberto Caeiro, tão evidentemente tal como não podia deixar de ser, que acho escusado e inútil pesquisar neste {…}
Quer conheça Whitman, quer não, o sr. Alberto Caeiro é igualmente original, e é original como ninguém.
Esta frase casual e usual cabe magnificamente a uma descrição do seu génio extraordinário. Alberto Caeiro é original como ninguém. Não conheço, em tudo quanto é literatura, e que eu conheça, poeta tão original. Blake e Whitman lembram logo. Mas a obra do primeiro é plenamente desequilibrada, e a sua base filosófica bebe[2] existência, em parte, dos místicos e dos ocultistas, se bem que em parte seja originalíssima. E Whitman não se eleva a uma concepção filosófica que de longe se pareça com nítida. Alberto Caeiro é, por isso, mais do que ambos esses grandes poetas.
[1] poesia /versos\
[2] bebe /tira\