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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14A – 66-67
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[Sobre a “Ode Marítima” de Álvaro de Campos]
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Autor
I. I. Crosse

Identificação

Titulo
[Sobre a “Ode Marítima” de Álvaro de Campos]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14A – 66-67]

 

I. I. Crosse

 

Alvaro de Campos is one of the very greatest rhythmists[1] that there has ever been. Every metric paragraph of his is finished work of art. He makes definite, perfectly “curved” stanzas of these irregular “meters”.

He is the most violent of all writers. His master Whitman is mild and calm compared to him. Yet the more turbulent of the 2 poets is the most self-controlled. He is so violent that enough of the energy of his violence remains for him[2] to use it in |disciplining| his violence.

The violence of the Naval Ode is perfectly insane. Yet it is unparalleled in art, and because its violence is such.

 

[66v]

 

His volcanic emotion, his violence of sensation, his formidable shifting from violence to tenderness, from a passion for great and loud things to a love of humble and quiet ones, his unparalleled transitions, his sudden silences, sudden pauses… his change from unstable to |equable| states of mind - none has ever approached him in the {…} of this hysteria of our age.

The classic training of his early years, that never deserts him (for he is one of the most unified of poets, and ever a builder and a fitter-together of parts in an organic whole); his individual instability, his mathematical training and scientific training, adding another stabilizing influence (never too much for such a volcanic temperament) {…}

 

[67r]

 

His ferverous[3] contempt of small things, of small people, of all our age, because it is composed of small things and of small people.

This quasi-futurist who loves the great classic poets because they were great and despises the literary men of his time because they are all small.

His art of conveying sensations by a single stroke:

      

A fita cor de rosa deixada em cima da cómoda,

 

O último brinquedo partido (comboio ainda com a fita suja para o puxar)

Da criança inevitavelmente morta, ó mão de preto a dobrar-lhe o fato.

 

His terrible self-analysis, making suddenly cold all his emotion, as in the “Salutation”.

 

 

[BNP/E3, 14A – 66–67]

 

I. I. Crosse

 

Álvaro de Campos é um dos maiores ritmistas que alguma vez existiu. Cada parágrafo métrico seu é uma obra de arte concluída. Ele produz estrofes definidas e perfeitamente “curvas” desses “metros” irregulares.

Ele é o mais violento de todos os escritores. O seu mestre Whitman é suave e calmo em comparação com ele. Contudo, o mais turbulento dos dois poetas é o que tem mais controlo sobre si. Ele é tão violento que bastante da energia da sua violência é usada por ele para disciplinar a sua violência.

A violência da Ode Marítima é completamente insana. Porém, é sem paralelo em arte, porque é tanta a sua violência.

 

[66v]

 

A sua emoção vulcânica, a sua violência de sensação, a sua formidável mudança de violência para ternura, de uma paixão por coisas grandes e estrondosas para o amor das humildes e tranquilas, as suas transições inigualáveis, os seus súbitos silêncios, as suas súbitas pausas… a sua mudança de estados de espírito instáveis para os uniformes – ninguém jamais se assemelhou a ele na {…} desta histeria da nossa época.

O treino clássico dos seus primeiros anos, que nunca o abandona (pois ele é um dos poetas mais unificados e sempre um construtor e conjugador de partes num todo orgânico); a sua estabilidade individual, o seu treino matemático e treino científico, adicionando outra influência estabilizadora (nunca demasiada para um tal temperamento vulcânico) {…}

 

[67r]

 

O seu desprezo feroz pelas coisas pequenas, pelas pessoa pequenas, por toda a nossa época, porque é constituída por coisas pequenas e por pessoas pequenas.

Este quase-futurista que ama os grandes poetas clássicos porque foram grandes e despreza os homens literários do seu tempo porque eles são todos pequenos.

A sua arte de transmitir sensações de um único golpe:

 

A fita cor de rosa deixada em cima da cómoda,

 

O último brinquedo partido (comboio ainda com a fita suja para o puxar)

Da criança inevitavelmente morta, ó mão de preto a dobrar-lhe o fato.

 

A sua terrível auto-análise, tornando subitamente fria toda a sua emoção, como na “Saudação”.

 

 

 

[1] rhythmists /↑masters of rhythm\

[2] remains /[to him]\ for him

[3] ferverous /large-minded\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3111

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Dedicatário
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Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Proprietário
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Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer, Tomo II, Editorial Estampa, Lisboa, 1990, pp. 236-237.
Exposições
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