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Medium

Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 19 - 67
Imagem
Erostratus. (or the like)
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Erostratus. (or the like)
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[19 – 67]

 

Erostratus. (or the like)

 

Blank verse, the one so called, is an extremely dull medium to write in. Only the subtlest rhythmical faculty can ward off flatness, and it cannot ward off flatness for a long time. Perfect poems can be written in blank verse, that is to say, poems which can be read with interest and attention, and will fulfil and satisfy; but they must be short – “Tithonus”, or “Ulysses” or “Oenone” and the like. When not short, or not sufficiently short, they can hold themselves up only by strong interest, and it is very difficult, except in drama, to carry strong interest along the desert of blank verses. Blank verse is the ideal medium for an unreadable epic poem. All the metrical science of Milton, and it was very great, cannot make of Paradise Lost anything but a dull poem. It is dull, and we must not lie to our souls by denying it. One element such a poem may have – quick action, material or mental – and it might escape dullness thereby: action as in Arnold’s “Sohrab and Rustum”, which is marvellously readable, or thought {…}

 

In Milton there is very little action, properly such, very little quick action, and the thought is all theological, that is to say, peculiar to a certain kind of metaphysics which does not concern the universality of mankind.

 

The fact is that the epic poem is a Graeco-Roman survival, or very nearly so.

 

Only prose, which disengages the aesthetic sense and lets it rest, can carry the attention willingly over great spaces of print. “Pickwick Papers” is bigger, in point of words, than “Paradise Lost”; it is certainly inferior, as values go; but I have read “Pickwick Papers” more times than I can reckon, and I have read “Paradise Lost” only one time and a half, for I failed at the second reading. God overwhelmed me with bad metaphysics and I was damned. I was literally God-damned.

 

[19 – 67]

 

Heróstrato. (ou algo semelhante)

 

O verso branco, o que assim é chamado, é um meio extramente aborrecido para nele se escrever. Apenas a mais subtil faculdade rítmica pode afastar a monotonia e não consegue afastar essa monotonia por muito tempo. Pode escrever-se poemas perfeitos em verso branco, isto é, poemas que podem ser lidos com interesse e atenção e irão preencher e satisfazer; mas devem ser breves – “Tithonus”, “Ulysses” ou “Oenone” e outros semelhantes. Quando não forem breves, ou não suficientemente breves, eles podem sustentar-se pelo forte interesse e é muito difícil, excepto no drama, sustentar um interesse forte ao longo do deserto dos versos brancos. O verso branco é o meio ideal para um poema épico ilegível. Toda a ciência métrica de Milton, e era muito grande, não pode fazer do Paraíso Perdido nada mais do que um poema aborrecido. É aborrecido, e não devemos mentir às nossas almas, negando-o. O poema deverá ter um elemento – a acção rápida, mental ou material – e dessa forma deverá escapar ao aborrecimento: a acção tal como em “Sohrab and Rustum” de Arnold, que é maravilhosamente legível ou pensada {…}

 

Em Milton existe muito pouca acção, propriamente tal, muito pouca acção rápida, e o pensamento é todo teológico, isto é, peculiar a um certo tipo de metafísica que não diz respeito à universalidade da humanidade.

 

O facto é que o poema épico é um resquício greco-romano ou algo muito semelhante.

 

Apenas a prosa, que liberta o sentido estético e deixa-o repousar, pode conduzir a atenção voluntariamente sobre os grandes espaços do impresso. “Pickwick Papers” é maior, no que respeita às palavras, do que o “Paraíso Perdido”; é certamente inferior, no que respeita ao valor; mas li os “Pickwick Papers” mais vezes do que me consigo lembrar e li o “Paraíso Perdido” apenas uma vez e meia, pois não consegui terminar a segunda vez. Deus oprimiu-me com a sua má metafísica e eu fui amaldiçoado. Fui literalmente amaldiçoado por Deus.

 

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2500

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

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Locais
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Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 214-215.
Exposições
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