Imprimir

Medium

Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 19 - 60-61
Imagem
Erostratus
PDF
Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Erostratus
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[19 – 60-61]

 

Erostratus.

 

Conciseness and a hold on the reader, which are required in detective stories, are no less required in all forms of literature. Nothing is gained by wearying the reader. Edgar Wallace is more interesting than Walter Scott, but Edgar Wallace is not more interesting than Shakespeare. There is an Edgar Wallace in Shakespeare.

 

The stress and pressure of modern conditions may have many disagreeable aspects, but it has had a very favourable one – the need for conciseness and for deliberate interestingness in a literary work. It was one of Poe’s critical triumphs that he foresaw the necessity of the shorter poems. This was one of his visions of the[1] future, as the detective story was one of his anticipations of it.

 

We need not exclude the epic poem, but we can reduce it to five books – the size of a drama, which should be the limit of literary bulk, that interest may be thorough and maintained.

 

No greatness of everything in verse can triumph over the twenty-four books of the “Iliad” or carry Virgil into the middle of Olympus.

 

Compare the luminous beauty of Tennyson’s original and short “Morte d’Arthur” with the dull good-writing of his later and very long “Idylls of the King”.

The constancy of scattered beauty cannot wipe out the unbeautifulness of its being scattered over too long a stretch of verse.

 

The epic poem was really the old correspondence to the human need for the novel. The novel having come, we can sink the epic in the poem.

Matthew Arnold’s “Sohrab and Rustum”.

 

[61r]

 

Nothing worth expressing ever remains unexpressed; it is against the nature of things that it should remain so. We think that Coleridge had in him great things he never told the world; yet he told them in the Mariner and Kubla Khan, which contain the metaphysics that is not there, the fancies they omit and the speculations nowhere to be found. Coleridge could never have written those poems if there had not been that in him that the poems do not express by what they say, but by the mere fact that they exist.

 

Each man has very little to express, and the sum of a whole life of feeling and thought can sometimes bear total in an eight-line poem. If Shakespeare had written nothing but Ariel’s song to Ferdinand, he would not indeed have been the Shakespeare he was – for he did write more – but there would have been enough of him to show that he was a greater poet than Tennyson.

 

Each of us has perhaps much to say, but there is little to say about that much. Posterity wants us to be short and precise. Faguet said excellently that posterity likes only concise writers.

Variety is the only excuse for abundance. No man should leave twenty different books unless he can write like twenty different men. Victor Hugo’s works fill fifty large volumes, yet each volume, each page almost, contain all Victor Hugo. The other pages add up as pages, not as genius. There was in him no productivity, but prolixity. He wasted his time as a genius, however little he may have wasted it as a writer. Goethe’s judgement on him remains supreme, early as it was given, and a great lesson to all artists: “he should write less and work more”, he said. This is, in its distinction between real work, which is non-extended, and fictitious work which takes up space – for pages are no more than space – one of the great critical sayings of the world.

 

If he can write like twenty different men, he is twenty different men, however that may be, and his twenty books are in order.

 

 

[19 – 60-61]

 

Heróstrato.

 

A concisão e a capacidade de reter o leitor, que são exigidos nas histórias policiais, não são menos exigidos em todas as formas de literatura. Nada se ganha em cansar o leitor. Edgar Wallace é mais interessante do que Walter Scott, mas Edgar Wallace não é mais interessante do que Shakespeare. Existe um Edgar Wallace em Shakespeare.

 

A tensão e pressão das condições modernas podem ter muitos aspectos desagradáveis, mas têm um favorável – a necessidade de concisão e de interesse deliberado numa obra literária. Um dos triunfos de Poe foi ter antecipado a necessidade de poemas mais breves. Esta foi uma das suas visões do futuro, tal como a história policial foi uma das suas antecipações.

 

Não necessitamos de excluir o poema épico, mas podemos reduzi-lo a cinco livros – o tamanho de um drama, que deverá ser o limite do tamanho literário, de modo a que o interesse seja integral e se mantenha.

 

Nenhuma grandeza de tudo o que existe em verso pode trinfar sobre os vinte e quatro livros da “Ilíada” ou levar Virgílio para meio do Olimpo.

 

Compare-se a beleza luminosa do original e breve “Morte d’Arthur” de Tennyson com a enfadonha boa escrita do seu tardio e muito longo “Idylls of the King”.

A constância da beleza dispersa não consegue eliminar a falta de beleza de estar dispersa sobre um trecho muito longo do verso.

 

O poema épico era realmente a velha correspondência para a necessidade humana do romance. Tendo aparecido o romance, podemos colocar o épico no poema.

“Sohrab and Rustum” de Matthew Arnold.

 

[61r]

 

Nada que mereça ser expresso fica inexpresso; é contra a natureza das coisas que deva assim permanecer. Pensamos que Coleridge tinha em si grandes coisas que nunca disse ao mundo; contudo, disse-as no Mariner e em Kubla Khan, que contém a metafísica que lá não está, as fantasias que omitem e as especulações que não podem ser encontradas em lado nenhum. Coleridge nunca poderia ter escrito esses poemas se não tivesse acontecido que nele os poemas não atingem expressão por aquilo que dizem, mas pelo mero facto de que existem.

 

Cada homem tem muito pouco para exprimir e a soma de toda uma vida de sentimento e de pensamento pode, por vezes, caber totalmente num poema de oito linhas. Se Shakespeare não tivesse escrito nada para além da canção de Ariel para Ferdinand, ele não teria, com efeito, sido o Shakespeare que foi – pois escreveu mais – mas teria havido o suficiente para mostrar que ele foi um poeta maior do que Tennyson.

 

Cada um de nós tem talvez muito a dizer, mas existe pouco a dizer sobre esse muito. A posteridade quer que sejamos breves e precisos. Faguet disse excelentemente que a posteridade ama apenas os escritores concisos.

A variedade é a única desculpa para a abundância. Nenhum homem deve deixar vinte livros diferentes a menos que consiga escrever como vinte homens diferente. As obras de Victor Hugo enchem cinquenta largos volumes, contudo, cada volume, quase cada página, contém todo o Victor Hugo. As outras páginas somam-se como páginas, não como génio. Não havia nele nenhuma produtividade, mas apenas prolixidade. Desperdiçou o seu tempo como génio, por pouco que o tenha desperdiçado como escritor. O juízo que Goethe fez sobre ele permanece supremo, por mais cedo que tenha sido dado, e é uma grande lição para todos os artistas: “deveria escrever menos e trabalhar mais”, disse ele. Isto é, na sua distinção entre obra real, que não é extensa, e obra fictícia que ocupa espaço – pois páginas mais não são do que espaço –, um dos grandes ditos críticos do mundo.

 

Se ele consegue escrever como vinte homens diferentes, é vinte homens diferentes, seja como for, e os seus vinte livros são justificados.

 

 

[1] the /a\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2494

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Proprietário
Historial

Palavras chave

Locais
Palavras chave
Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Publicação parcial: Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 207-209.
Publicação integral: Fernando Pessoa, Heróstrato e a Busca da Imortalidade, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 178-179; 194-195.
Exposições
Itens relacionados
Bloco de notas