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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 18 – 46–47
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[Sobre arte]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre arte]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 18 – 46–47]

 

A questão da arte moral ou imoral – se a arte deve ser “art for art’s sake”, independentemente da moralidade, apesar de muito simples de solução, não tem deixado de ocupar desagradavelmente muito pensador, especialmente dos que desejam provar que a arte deve ser moral.

Em primeiro lugar demos inteira razão – é evidente que a têm – aos estetas, a arte tem, em si, por fim só a criação de beleza, à parte considerações de ser moral ou não. Se isto é assim quem manda pois à arte ser moral? A resposta é simples: a moral. Manda-o a moral porque a moral deve reger todos os actos da nossa vida e a arte é uma forma da nossa vida. Têm errado aqueles que têm querido achar uma razão, dentro da própria natureza da arte, para a arte ser moral. Não existe essa razão onde a procuraram. A arte, quâ arte, tem por fim apenas a beleza.

 

[46v]

 

A razão que a manda ser moral existe na moral, que é exterior à estética; existe na natureza humana.

A arte tem duas feições: a feição puramente artística e a feição social. A feição artística é criar a beleza – nada mais. Como a beleza é uma coisa independente do consenso humano (apesar de julgada por ele), como a beleza em si, digamos, é independente de opiniões, a arte na sua {…} social nenhum outro fim tem que a criação da beleza, sem outra consideração moral ou intelectual.

Mas a arte tem outra feição |inalienável à sua natureza[1]|. É a feição social. O artista é um homem e um artista. Como puramente artista a sua obra, já o dissemos, tem só por fim – criar a beleza, só uma responsabilidade – perante a Estética. Mas o artista vive em sociedade, publica as suas obras de arte. Vive em sociedade como artista e vive em sociedade como homem. Como artista o seu fim é um só: agradar. Como homem o seu fim é um só: obter glória.

 

[47r]

 

Vemos pois que o artista mostra-se-nos sob 3 feições: como puramente artista (não tendo outro fim que criar a beleza), como ao mesmo tempo artista e homem (querendo ver essa beleza que criou admirada), e puramente como homem (desejando a glória, no que é comum aos outros homens, geralmente e realmente em todos). O primeiro sentimento é puramente impessoal; o segundo é entre pessoal e impessoal – o desejar ver admirada uma obra de arte, conquanto sua, não é inteiramente egoísta; o terceiro é inteiramente pessoal.

|Cremos ter dado, nestas palavras, a solução definitiva do problema.|

Ora, segundo estas 3 feições do artista, está ele submetido a diversas leis. Como puramente artista nenhuma outra lei tem que não seguir a estética. Mas já buscando agradar se tem que submeter a outras leis; a natureza da humanidade é uma só, não se divide em estética, moral, intelectual, etc. Só a Estética personalizada é que poderia apreciar uma obra de arte sob o ponto de vista puramente estético. A humanidade não; o amor da beleza é fundamental na sua alma – é arte; mas não só isso reside nela, não só com isso critica e aprecia. Outros elementos en-

 

[47v]

 

tram inevitavelmente nessa apreciação. Um grande poema revolucionário agradará mais a um republicano do que a um conservador, admitindo em ambos, quanto a qualidades críticas, a mesma dose de estética.

Os homens não apreciam só esteticamente, apreciam com toda a sua constituição moral. Por isso coisas grosseiras impuras, {…} lhes desagradam, não à parte estética neles, mas à parte moral que não podem mandar embora de si.

 

 

[1] natureza /maneira\

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2360

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria
Arte

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
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Dedicatário
Destinatário
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

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Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 55-57.
Exposições
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