Imprimir

Medium

Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 100 – 25–26
Imagem
Detective Story
PDF
Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Detective Story
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 100 – 25–26]

 

Detective Story.

 

There are three ways to put all the facts before the reader, yet puzzle him with a logical conclusion: (1) the use of science, or of any particular branch of knowledge, which extracts from the patent facts conclusions which the reader, unless he happens to be a specialist in the same department, cannot foresee; (2) the mixing up of pertinent data with irrelevant elements, so as to render it too difficult to sift the material; (3) the absolute extraction from patent data of a conclusion absolutely implicit in them, by a degree of reasoning higher than the reader’s.

 

The first way is the one adopted by Dr. Austin Freeman, and it is quite legitimate, though it is the simplest of the legitimate ways. It is not the simplest in the sense of being the easiest to any writer, but in the sense of being easiest to the writer who happens to have the particular knowledge employed in the special tale in point. In this case, perfect work would present the story in as bare and unmixed a manner as possible, for, the difficulty being in the absence of particular knowledge by the reader, it is useless, and therefore inartistic, further to complicate the matter by complicating it further. Dr. Austin Freeman is guilty, in many cases, of this superimposition of useless secondary elements on primary elements which would be not only equally, but even doubly, mysterious if abandoned to their direct bareness.

 

The second way has the great difficulty of being difficult: it is not easy to handle in accordance with art. The point is to make the muddle a natural one, for this way

 

[26r]

 

has the advantage of giving facts as life really presents them, the relevant mixed with the irrelevant, the secondary with the primary. It may be said that every detective story, good or bad, does so mix facts, exactly like life, because it is written by a living being, in whom life echoes, in his own despite, the complexity of its interweavings. But this is not so. In the first place, the admixture of facts must be free from coincidences (as we have been seen in the general points stated), {…}

 

The third way has been perfectly achieved only once – in Edgar Poe’s Marie Roget.

 

The overlaying of facts is one of the legitimate aspects of this second case.

 

Let us suppose a murderer wishes to establish a false alibi. He can think out coherently the conditions in which he shall establish that alibi, but he cannot command external circumstances which may affect the alibi he is establishing. A shower – if it be natural –, a late train – if that be not thrust into the story like a poker –, are facts which he cannot foresee. They may complicate his alibi in many different ways.

 

 

[BNP/E3, 100 – 25–26]

 

História Policial.

 

Existem três formas de colocar todos os factos diante do leitor, mas confundi-lo com uma conclusão lógica (1) o uso da ciência ou de qualquer ramo particular da ciência, que extraia de factos patentes conclusões que o leitor, a menos que seja um especialista no mesmo departamento, não consegue prever; (2) a mistura de dados pertinentes com elementos irrelevantes, de modo a tornar difícil peneirar o material; (3) a  extracção absoluta a partir de dados patentes de uma conclusão absolutamente implícita neles, por meio de um grau de raciocínio superior ao do leitor.

 

A primeira forma foi a adoptada pelo Dr. Austin Freeman e é bastante legítima, embora seja a mais simples das formas legítimas. Não é a mais simples no sentido de ser a mais simples para um escritor, mas no sentido de ser a mais simples para o escritor que detenha um conhecimento particular aplicado na história em questão. Neste caso, encontrando-se a dificuldade na ausência de um conhecimento particular da parte do leitor, é inútil e, portanto, inartístico complicar ainda mais a matéria ao complicá-la mais. O Dr. Austin Freeman é culpado, em muitos casos, da sobreposição de elementos secundários inúteis com elementos primários que seriam não só igualmente, mas também duplamente, misteriosos se fossem abandonados à sua simplicidade directa.

 

 A segunda forma possui a grande dificuldade de ser difícil: não é fácil actuar de acordo com ela em arte. O objectivo é tornar a confusão algo natural, pois esta forma

 

[26r]

 

tem a vantagem de apresentar os factos tal como a vida realmente os apresenta, os relevantes misturados com os irrelevantes, os secundários com os primários. Pode dizer-se que qualquer história policial, boa ou má, mistura os factos desse modo, exactamente como a vida, porque é escrita por um ser vivo, em quem a via ecoa, a despeito de si próprio, a complexidade dos seus entrelaçamentos. Mas isto não ocorre assim. Em primeiro lugar, a mistura de factos deve ser livre de coincidências (como vimos nos pontos gerais referidos), {…}

 

A terceira forma foi alcançada de um modo perfeito apenas uma vez – em Marie Roget de Edgar Poe.

 

A sobreposição de factos é um dos aspectos legítimos deste segundo caso.

 

Suponhamos que um assassino deseja estabelecer um falso álibi. Pode pensar coerentemente as condições em que deve estabelecer esse álibi, mas não pode controlar as circunstâncias externas que poderão afectar o álibi que ele estabelece. Uma chuva – se for natural –, um comboio atrasado – se não for introduzido forçadamente na história –, são factos que ele não pode prever. Eles podem complicar o seu álibi de muitas formas diferentes.

 

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2292

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria
Genologia

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Proprietário
Historial

Palavras chave

Locais
Palavras chave
Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Publicação parcial: Gianluca Miraglia, «Pessoa e il giallo», In: Delitti di Carta: Quaderni Gialli di Racconti, Dtudi, storie e Cronistorie. Nuova Serie – n. 2, maggio 2004, pp. 68-69.
Publicação integral: Fernando Pessoa, Histórias de um Raciocinador e o Ensaio «História Policial», edição e tradução de Ana Maria Freitas, Lisboa, Assírio & Alvim, 2012, pp. 253-254.
Exposições
Itens relacionados
Bloco de notas