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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 88 - 16-17
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Manifesto
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Manifesto
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 88 – 16–17]

 

Manifesto:

 

Toda a arte antiga baseava-se num elemento; isto tanto acontece à arte clássica, do paganismo, como à arte da Renascença, como à arte romântica. Só modernissimamente se começou a fazer evoluir a arte para fora deste vetusto e rígido molde.

 

Os gregos e os romanos (e com eles os homens da Renascença, mais esbatidamente) pretendiam dar a sensação que sentiam perante determinado objecto ou assunto de modo a vincar fortemente a realidade desse objecto. Os românticos viram, porém, que a realidade, para nós, não é o objecto, mas sim a nossa sensação dele. Curaram mais, por isso, de dar a sensação do objecto, do que o objecto propriamente dito; longe de se afastarem da Realidade, procuraram-na, visto que a sensação do objecto é que é a Realidade verdadeira, e não o objecto concebido como existindo fora da nossa sensação, visto que fora da nossa sensação não existe nada, pois que para nós a nossa sensação é o critério de existência. O homem é a medida de todas as coisas; a frase de Protágoras vale pela verdade, no seu sentido total e abstracto.

 

A interiorização produzida pelo cristianismo levou os homens a reparar (primeiro inconscientemente) para o facto de que a realidade, o facto real, não é o objecto mas a nossa sensação dele, onde ele existe. Fora disso existirá ou não; não o sabemos.

 

Mas o romantismo viu pouco. O facto é que a Realidade verdadeira é que há duas coisas – a nossa sensação do objecto e o objecto. Como o objecto não existe fora da nossa sensação – para nós, pelo menos, e isso é o que nos importa – segue que a realidade verdadeira vem a ser contida nisto: na nossa sensação do objecto e na nossa sensação da nossa sensação.

 

A arte clássica era uma arte de sonhadores e de loucos. A arte romântica, apesar da sua maior intuição de verdade, era uma arte de homens que adolescem para a noção real das coisas, sem estarem ainda adultos de sentidos perante ela.  

 

[17r]

 

A realidade, para nós, é a sensação. Outra realidade imediata não pode para nós existir.

A arte, seja ela o que for, tem de trabalhar sobre este elemento, que é o único real que temos.

O que é a arte? A tentativa de dar dos objectos – entendendo por objectos, não só as coisas exteriores, mas também os nossos pensamentos e construções espirituais – uma noção quanto possível exacta e nítida.

 

A sensação compõe-se de dois elementos: o objecto e a sensação propriamente dita. Toda a actividade humana consiste na procura do absoluto. A ciência procura o Objecto absoluto – isto é, o objecto quanto possível independente da nossa sensação dele. A arte procura a Sensação absoluta – isto é, a sensação quanto possível independente do Objecto. A filosofia (isto é, a Metafísica) busca a relação absoluta do Sujeito (Sensação) e do Objecto.

 

Ora a Arte busca a Sensação em absoluto. Mas a sensação, como vimos, compõe-se do Objecto sentido e da Sensação propriamente tal.

 

 

Intersecção do Objecto consigo próprio: cubismo. (Isto é, intersecção dos vários aspectos do mesmo Objecto uns com os outros).

Intersecção do Objecto com as ideias objectivas que sugere: Futurismo.

Intersecção do Objecto com a nossa sensação dele: Interseccionismo, propriamente dito; o nosso.

 

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2273

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria
Sensacionismo

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Proprietário
Historial

Palavras chave

Locais
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Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Paula Cristina Costa, As Dimensões Artísticas e Literárias do Projecto Sensacionista, Tese de Mestrado em Literaturas Comparadas Portuguesa e Francesa, Lisboa, FCSH – Universidade Nova de Lisboa, 1990, pp. 303-306.
Exposições
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