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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP-E3, 88 - 1
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O Sensacionismo
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
O Sensacionismo
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 88 – 1]

 

No passado tem havido

um sensacionismo

limitado, postulado,

acanhado, |estático|.

O Sensacionismo:

1. Elementos da sensação:

(a) Os dois elementos basilares da sensação são o sujeito e o objecto. (A metafísica vê as relações do Sujeito e do Objecto através do Objecto. A arte vê-as através do Sujeito).

(b) Os elementos reais da sensação são: a Consciência, o Sujeito e o Objecto. Sinto, sinto tal coisa, e sinto que sinto.

(c) Decompondo mais: os elementos actuais da sensação são: o universo; o objecto; a sensação imediata do objecto; a atitude mental por detrás dessa sensação imediata; a consciência por detrás dessa atitude mental.

______________________________________________________________________  

 

= 1. Sensação do objecto + ideias (objectivas) associadas à sensação do objecto × ideias subjectivas associadas à sensação do objecto (estado de alma na ocasião) + temperamento[1] da criatura. São estes os quatro elementos componentes da sensação, vendo-a como subjectiva, conforme acontece em arte.

————— A arte clássica suprimia os dois elementos intermédios, ou fundia-os, a dois e dois (SO + I.O.A.) × (I.S.A. + BT). Era a arte mais adequada a uma representação nítida e normal das coisas – representação, porém, que pecava por falsa.

————— A arte da Renascença – neo-classicismo, digamos – transformou a fórmula clássica em (SO + IOA) × ISA × BT

————— O Romantismo, e as correntes nadas dele, implantaram a fórmula: (SO + IOA + ISA) × BT

————— O Sensacionismo procura chegar à fórmula: SO × IOA × ISA × BT

 

[1v]

 

O cristianismo chamou a atenção para a vida interior. Essa atenção fatalmente havia de ir, a passo e passo, resolvendo a vida-interior nos seus dois elementos, por onde se chega à fórmula (SO + IOA) × ISA × BT       

 

Temos no romantismo:

(a) uma menor riqueza total do que no neo-classicismo. Porque é composto de 2 elementos, e aquele de 3; um menor equilíbrio, porque o neo-classicismo resolve-se numa divisão dos elementos da sensação em 2, 1, 1 e o romantismo em 3, 1. O classicismo em 2, 2 – perfeito equilíbrio |e perfeita riqueza|.

(b) um abaixamento da personalidade, que ficou reduzida a BT. Arte.

(c) um enriquecimento do exterior.

 

9-6-1915

“Cross-sections” – Interseccionist poems

________________________________________

My sensation of this river and the river are separate things:

They are each on one side of one, they are two things

That carry my consciousness of them over my unconsciousness[2]

Like a dark cloud passing its darkening over a dark pond {…}

And the way they are wings in one is as if they were a dress…

I feel that all I am is all I am not… There is nothing beyond…

 

I close my wings, and the river and my sensation of it meet

They intersect over my body and this evident street

That lies before me now, rigorously real and straight,

Passes right through me like {…}

 

A Symphony of Sensations – An Intersectionist Poem

 

(1) Instead of accepting your sensations into a preconceived whole, by a process of inhibition, elimination and {…}, let them, by themselves, trace out your poem, work it all out. Follow them, do not try to make them follow you. What are you outside them? Nothing. Of anything, somebody else.

(2) Your poem will not lose unity thereby; sensations do not come anyhow, do not follow each other without law. There is a unity, in them, a continuity, a direction. Learn to belong to them. They have besides, the unity of belonging to you and of being yours.[3]

 

 

[1] temperamento /base temperamental\

[2] unconsciousness /self-consciousness\

[3] “Inter-secções” – Poemas interseccionistas

________________________________________

A minha sensação deste rio e este rio são coisas separadas:

Estão cada um em um lado, eles são duas coisas

Que transportam a minha consciência deles através do meu inconsciente

Como uma nuvem negra que passa a própria escuridão através de um lago negro {…}

E a forma como são asas em um é como se fossem um vestido…

Eu sinto que tudo o que eu sou é tudo o que não sou… Não existe nada além disso…

 

Eu fecho as minhas asas, e o rio e a minha sensação dele encontram-se

Interseccionam-se através do meu corpo e esta rua evidente

Que está diante de mim agora, directa e rigorosamente real,

Passa imediatamente por mim como {…} 

 

Uma Sinfonia de Sensações – Um Poema Interseccionista

 

(1) Em vez de aceitar as tuas sensações num todo preconcebido, por um processo de inibição, eliminação e {…}, deixa-as, por si mesmas, traçar o teu poema, trabalhá-lo completamente. Segue-as, não tentes fazê-las seguir-te. O que é que tu és para além delas? Nada. De qualquer coisa, outra pessoa.

(2) O teu poema não perderá a unidade com isso; as sensações não vêm de qualquer modo, não se seguem umas às outras sem lei. Existe uma unidade nelas, uma continuidade, uma direcção. Aprende a pertencer-lhes. Elas têm, além disso, a unidade de pertencer-te e de serem tuas.

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2260

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria
Sensacionismo

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
9-6-1915
Notas à data
Datas relacionadas
Dedicatário
Destinatário
Idioma

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Estado de conservação
Entidade detentora
Historial

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Nomes relacionados

Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Paula Cristina Costa, As Dimensões Artísticas e Literárias do Projecto Sensacionista, Tese de Mestrado em Literaturas Comparadas Portuguesa e Francesa, Lisboa, FCSH – Universidade Nova de Lisboa, 1990, pp. 285-286, 307-308.
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