Identificação
[BNP/E3, 143 – 48-49]
“A distinção entre poesia e prosa está na maneira como as ideias se produzem e se agrupam no cérebro para formar o pensamento, ou conceito; se por correspondência simultânea, determinando a visão e a imagem correspondente, momentaneamente, em uma forte comoção das células cerebrais; se por sobreposições sucessivas, originando a relatividade das imagens correspondentes, e vindo o pensamento geral a produzir-se por indução – no 1º caso temos a poesia, de que o verso há-de ser a expressão natural e precisa; no 2º, teremos prosa. – É por isto que não é poeta quem quer, é necessário ser dotado de predisposição própria, é preciso que os nervos e o cérebro do indivíduo tenham condições na-
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turais de vibratilidade especial. – Do mesmo modo não é prosador quem quer, é preciso que a sobreposição das ideias se faça em convergência e divergência proporcional, e, por isto, necessário se torna que os nervos e as células cerebrais do indivíduo vibrem, para a produção de cada ideia e correspondente imagem, em acordes proporcionais à intensidade da comoção que as origina. Se o indivíduo pois não for dotado de tais condições, o que disser ou escrever não terá nem intensidade nem ritmo, e só compreensível quando reproduzir mais ou menos inconscientemente a chapa; isto é, as fórmulas modelares do pensamento que constituem o fundo da bagagem intelectual de toda a gente culta. Será reeditar o que
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mil vezes foi dito. A literatura jornalística é isto, série de chapas que pode ser brilhante, porque a chapa não é o lugar comum. Nem doutro modo teriam os jornais popularidade; é preciso que o espírito do vulgarizado, do jornalista, soe insano com o da maioria dos leitores, embora sob aspectos de falsa novidade; é por isso que o jornal representa a opinião pública. Hegel, na sua Estética, reclama as mesmas condições para a obra de teatro, com o que não concordo, pelas considerações no prefácio do Casamento de conveniência longamente expus.”
Coelho de Carvalho – O Vitalismo na arte p. 14-15.