Identificação
[BNP/E3, 142 – 37-41]
All these were there: all human joys, all human sorrows, all human sufferings, all human tears. That voice continued – oh for words that should express how it contained, in what way – Hamlet with his melancholy, Othello in his jealous lie, {…} Lear absorbed by his children, and, not in the storm, {…}
[37v]
All things that make up the life of men were there. They behold curiously, made one. A unity glow to a heart.
[38r]
All this – all, in a rhythm grasped in tears, in a deepness beyond all that can initially conceive, all this hurt upon our minds. Absent the lover, tears came unmated to the eyes and the heart felt itself to ache.
Then every man realized what facts are, what sentiments are {…} and obscure. Then every man felt the {…}, the weariness of life it brings, the taedium of looking for ever upon the same living things.
Mysterious longings, desolate desires, lofty ambitions, ununderstood took their hearts, impossible to men, wishes of things that were, desires of things that shall not be, things that cannot ever be, mourn of things that might have been.
All these things that that seemed weak All these did it |*contrive|, ay, |*contrive|, there is no other word to say this, to explain this, to give sense to that tremendous comprehension.
[39r]
He will […] of all is life! He will speak things which are in these words! Hide him, divide him or we die! This I though, but could not speak. As in a nightmare the words were striped in my throat. It seemed that the silent bells, ringing yet of the horror my soul foreshadowed, looked at me and reproached to make me silent as they.
I saw then that the Mad-Man had reached the top of the tower, I saw the crowd below pushing wood, stand boxes, unexplainable stuff into the doors, but the windows craving these, to coast the ambition alive. I saw his eyes being accustomed to anguish grow more frightened more mad – his look rarely passed my face and I shrieked inwards at its inborn horror, at its expression of supernatural inspiration.
[39v]
The crowd continued, they hustled, hustled round the old edifice. They shouted, shrieked, laughed widely, I saw asleep, in a trance. At last they set fire to the wood.
Then they abandoned the nearness of the old church and came into the square to see the burning of the madman. I looked at the church of town in horror. Men of all ages, workers of all ages, boys, girls, children all seemed gay at the burning of the Madman. They gazed with lost expectation at the scene.
He reached for the rope of the bells and I saw his hands tremble extremely with madness in the would-be grip, in the figure, in the whole hand, arm, body, {…}
[39ar]
He {…} the bells and these gave then a sound such as human ears have never heard, as human minds have never conceived. A sound? A sound? That, a sound? No it was more than a sound, it was a wail, a cry, a moan, colossal as a thought, enormous as Freedom, bitter as Hell! A sound? No it was a voice.
Then these last from the bells as from our men throat a sneering of Things (there is no name for these) such as no mind, no soul, no inquisition, no mysticism can conceive or even conceive the conception.
A voice! All with King Lear, Hamlet, Nero, Christ.
[39av]
One enormous conclusive shriek all result. Now in epileptic twitch let others beyond in mysterious, others grew mad, and stupidly with open eyes.
These were all in that more than Voice, all. All that was done, all that we weep all that for which we pain. Truth and unthruth, substance and shadow. Flowers, wind trees man, cells and atoms, systems of suns and clusters of stars. The peculiar and single dream of a child, of a man, the light thoughts {…}
Things that mean little as an idiot’s smile, and things that express much as a madman’s tear.
A heat of water mysterious and lonely with a moonlight {…} a land that the world has not, a river with a boat, beautiful, beautiful but not a thing that is in my world, {…} a phantastic isle, of marvels, of whales, of crabs where live grotesque pirates, harmless persons that never were. #
[40r]
By art we strive ever to express the more highly as can our sentiments, to make the other ones that they may know we suffer this.
Shall I but prove all my anguish all the pain and doubt of my life but one Sound ay that sound be held one and no more {…}
Ay?
Burn its horror and strike dead. They would see that the voice, the true voice of my anguish is the voice of more than mine anguish, is the voice of more than myself.
[40v]
But have you lain healthier in a bed and seen and felt the horrors around?
Ay! I have {…}
You have? You? No, never, never! What do you know of the true basis, of the true horrors of the truths that we incarnate in symbols and in {…}
I dream awful dreams, more awful than all that have been dreamt, more dreamful. I fall not through precipices, but through ideas. I cannot express it, never, never!
[41r]
#
And over lands more than |*breadth| in dream, over seas that are not and are the boat that they lean, the silent and mysterious stars.
Fears, joys, illusions, dreams, realities, things, ideas and then bitter death, love and its despair, heat and its lust, {…} all these that voice expressed, no, contained, no – all this that voice was.
The whole world, the whole universe, the whole of nothingness the whole of pain: all this it expressed, all this it was.
[BNP/E3, 142 – 37-41]
Tudo isso estava lá: todas as alegrias humanas, todas as tristezas humanas, todos os sofrimentos humanos, todas as lágrimas humanas. Aquela voz continuou - ah, por palavras que deveriam expressar como continha, de que maneira - Hamlet com sua melancolia, Otelo em sua mentira ciumenta, {…} Lear absorvido por seus filhos, e, não na tempestade, {…}
[37v]
Todas as coisas que constituem a vida dos homens estavam lá. Eles olharam curiosamente, como se fossem um. Um brilho de unidade para um coração.
[38r]
Tudo isso - tudo, num ritmo agarrado às lágrimas, numa profundidade para além de tudo o que podemos inicialmente conceber, tudo isso doeu nas nossas mentes. Na ausência do amante, as lágrimas desmancharam os olhos e o coração começaram a doer.
Então cada homem percebeu o que são os fatos, o que são os sentimentos {…} e obscuros. Então cada homem sentiu o {…}, o cansaço da vida que isso traz, o tédio de olhar para sempre os mesmos seres vivos.
Anseios misteriosos, desejos desolados, ambições elevadas, incompreendidas tomaram os seus corações, impossíveis para os homens, desejos de coisas que foram, desejos de coisas que não serão, coisas que não poderão nunca ser, lamento de coisas que poderiam ter sido.
Todas essas coisas que pareciam fracas, Tudo isso fez |* conjecturar|, sim, |*conjecturar|, não há outra palavra para dizer isso, para explicá-lo, para dar sentido a essa compreensão tremenda.
[39r]
Ele irá […] de toda a sua vida! Ele falará coisas que estão nestas palavras! Esconda-o, divida-o ou morreremos! Isso eu pensei, mas não conseguia falar. Como num pesadelo, as palavras saíram da minha garganta. Parecia que os sinos silenciosos, soando ainda do horror que minha alma prenunciava, olhavam para mim e se censuravam por me silenciar como eles.
Eu vi então que o Homem-Louco havia alcançado o topo da torre, eu vi a multidão abaixo empurrando lenha, caixas, coisas inexplicáveis nas portas, mas as janelas ansiavam por elas, para manter a ambição viva. Vi os seus olhos acostumados à angústia ficarem mais assustados, mais enlouquecidos – o seu olhar mal passou por meu rosto e eu gritei por dentro com o seu horror inato, com a sua expressão de inspiração sobrenatural.
[39v]
A multidão continuou, eles se apressaram, apressaram-se em volta do antigo edifício. Gritaram, guincharam, riram muito, eu via dormindo, em transe. Por fim, eles atearam fogo à lenha.
Então eles abandonaram a proximidade da velha igreja e entraram na praça para ver a queima do louco. Olhei para a igreja da cidade com horror. Homens de todas as idades, trabalhadores de todas as idades, meninos, meninas, crianças, todos pareciam alegres com a queima do Louco. Eles olharam com expectativa perdida para a cena.
Pegou a corda dos sinos e vi as suas mãos tremerem extremamente de loucura no pretenso aperto, na figura, em toda a mão, braço, corpo, {…}
[39ar]
Ele {…} os sinos e estes deram então um som como os ouvidos humanos nunca ouviram, como as mentes humanas nunca conceberam. Um som? Um som? Isso, um som? Não, era mais que um som, era um lamento, um grito, um gemido, colossal como um pensamento, enorme como a Liberdade, amargo como o Inferno! Um som? Não, era uma voz.
Então estes continuaram dos sinos como da garganta dos nossos homens um escárnio das Coisas (não há nome para estes), como nenhuma mente, nenhuma alma, nenhuma inquisição, nenhum misticismo pode conceber ou mesmo conceber a concepção.
Uma voz! Tudo com o Rei Lear, Hamlet, Nero, Cristo.
[39av]
Resultou um enorme grito conclusivo. Agora, na contracção epiléptica, outros ficaram além do misterioso, outros enlouqueceram, e estupidamente com os olhos abertos.
Tudo isso estava nessa mais do que Voz, tudo. Tudo o que foi feito, tudo o que chorámos, tudo aquilo por que sofremos. Verdade e mentira, substância e sombra. Flores, vento, árvores, homens, células e átomos, sistemas de sóis e aglomerados de estrelas. O sonho peculiar e único de uma criança, de um homem, os pensamentos leves {…}
Coisas que significam pouco como o sorriso de um idiota e coisas que expressam muito como a lágrima de um louco.
Um calor de água misterioso e solitário com um luar {…} uma terra que o mundo não tem, um rio com um barco, lindo, lindo, mas que não é uma coisa que existe no meu mundo, {…} uma ilha fantástica, com maravilhas, com baleias, com caranguejos onde vivem piratas grotescos, pessoas inofensivas que nunca existiram. #
[40r]
Por meio da arte, sempre nos esforçamos para expressar tanto quanto podem os nossos sentimentos, para fazer com que os outros saibam que sofremos isso.
Devo apenas provar toda a minha angústia, toda a dor e dúvida da minha vida, excepto um Som, sim, para que esse som seja sustido e nada mais {…}
Sim?
Queime o seu horror e mate-o. Eles veriam que a voz, a verdadeira voz da minha angústia é a voz de mais do que minha angústia, é a voz de mais do que eu.
[40v]
Mas já se deitou mais saudável numa cama e viu e sentiu os horrores ao redor?
Sim! Eu já {…}
Já? Você? Não, nunca, nunca! O que sabe da verdadeira base, dos verdadeiros horrores das verdades que encarnamos em símbolos e em {…}
Eu sonho sonhos terríveis, mais terríveis do que todos os que já se sonhou, mais sonháveis. Não caio em precipícios, mas em ideias. Não consigo expressá-lo, nunca, nunca!
[41r]
# E sobre terras com mais do que a |* vastidão| do sonho, sobre mares que não existem e são o barco que encosta, as estrelas silenciosas e misteriosas.
Medos, alegrias, ilusões, sonhos, realidades, coisas, ideias e então a morte amarga, o amor e o seu desespero, o calor e a sua luxúria, {…} tudo isso que aquela voz expressava, não, continha, não - tudo isso era aquela voz.
Todo o mundo, todo o universo, todo o nada, todo o sofrimento: tudo isso ela expressava, tudo isso ela era.