[BNP/E3, 141 – 9]
Toda a literatura superior, ainda que (o que é raro) exprima ideias antinacionais, é forçosamente nacionalista. É-o porque a literatura superior é a expressão de um temperamento individual de escritor, e ainda porque é essa expressão através da linguagem. Do temperamento individual do escritor as influências, directas e herdadas, da nação a que pertence, formam parte; na linguagem, em que esse temperamento é expresso, pertence e define essa nação.
Posto, pois, que a literatura superior é toda nacional, quanto mais superior mais nacional, e portanto mais nacionalista, resta definir o que seja nacionalismo. Há três definições possíveis; há três tipos de nacionalismo, e cada um deles merece legitimamente essa designação.
O primeiro é o nacionalismo tradicionalista – o que faz consistir o sentimento nacional e a vida nacional na obediência a moldes fixos chamados tradições a que é atribuído um valor sentimental. Tal é o conceito da Arte †, quanto nacionalista e racionalisticamente nacionalista. O segundo é o nacionalismo espiritual, que faz consistir a essência da vida nacional não em tradições, mas num espírito especial, numa atitude – em geral religiosa – para com a vida. O terceiro é o nacionalismo histórico, que faz consistir a essência da vida nacional numa missão civilizacional ou histórica.
Parece que estes três tipos de nacionalismo se podem acumular dois a dois, ou todos três juntos. Não é assim. Cada um pertence a um tipo mental diferente.
O tradicionalismo é característico do espírito religioso. O seu fundamento que o espírito da religião nos induz antes refere o país para onde a religião remete.
O principal argumento contra o tradicionalista é o não saber o que é essa tradição e o culto dalguma tradição do seu país e[1] ele não consentir.
{…} e, posto de parte esse carácter, mostram o nacionalista, por assim dizer, absurdo.
[1] país /|*causa| ††\ /nem entender a causa d\ e