Identificação
[BNP/E3, 14E – 13]
Humour.
Há duas espécies de homens que admiramos: são os que são sublimes sem ser desumanos, e os que |são| mesmo sem ridicularizar. Por isso dois dos autores que apreciamos, |à parte outras considerações|, são Shakespeare e Dickens. A este último, desde que o lemos – que o … não diremos que o admiramos, mas que o amamos. Aquele humorismo perfeito, contagioso que não sabe ser cáustico e efusivo, nem sequer inteiramente sério, aquele sorriso de coração, sol de alma, orvalho do pensamento[1] – suave, terno, e, sobretudo, profundamente sincero – encanta-me, assalta-me. A graça francesa – a de Voltaire, por exemplo, nauseia-me. Os franceses não sabem sorrir, e o não saber sorrir é mais difícil. A graça de Swift arrepia; aquela ironia continua grave, misantrópica roupagem. Dickens sorri sempre. Voltaire ri sempre. Swift nunca ri. Consuma-se, o gosto sente-o {…}
[13v]
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Phosphoro. Pode ser.
Um americano disse-nos uma vez que em Nova York os prédios eram[2] tão altos que quem cai do alto deles morre de fome pelo caminho.
Perguntando-lhe nós como o sabia, respondeu que por experiência própria.
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Os Castelhanos também mentem muito é verdade. Até nos lembra a |judiciosa| reflexão de um homem zarolho, que chamava o bastão de bengala, que encontramos (ao homem e[3] à bengala) numa viagem. Referindo-se ele à questão se os Americanos mentiam mais que os espanhóis, opinou que qualquer deles mentiu mais que o outro, estando o outro ausente. Por certo, dava-se o caso contrário.
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[1] pensa/senti\mento
[2] eram /são\
[3] (/tanto\ ao homem e /como\