[BNP/E3, 14D – 33]
Duas Perdas.
A literatura portuguesa sofreu 2 perdas com as quais me não posso conformar e desespero por não poder deixar de o fazer. Uma dessas perdas é completamente irreparável – a das últimas poesias pessimistas de Antero de Quental, que ele próprio fez desaparecer, queimando-as. A outra perda é a das poesias e dos trabalhos científicos que nos faltam de José Anastácio da Cunha.
Quem leu a edição de 1839 de José Anastácio facilmente me compreende. Quem – regular psicólogo – soube avaliar do que temos dele – a estupenda mentalidade
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de José Anastácio – mentalidade científica e poética {…}
No desespero que tais perdas me causam – essas e outras parecidas – chego, para meu sossego – de necessitar alentar uma esperança: a de que o espiritismo futuro possa evocar do abismo essas composições perdidas, que nos restitua Píndaro completo e as décadas perdidas de Tito Lívio.
Nesta esperança auto-indeceptiva fico amargamente descansado.
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