Identificação
[BNP/E3, 14B – 21-23]
Obiter Dicta
ou
Optimismo.
ou
Sursum Corda!
A propósito do livro do sr. Alberto Caeiro.
Não que o livro do sr. Alberto Caeiro seja supremo; posto que excelente não é transcendente. Usamo-lo, por diante de nós o termos, para prova do nosso assento sociológico {…}
_______ (livros)
Onde a alma íntima do Povo vibra e se mostra, não a alma superficial do Povo que em Camões, Garrett {…}, mas a outra, a mais íntima, {…}
[21v]
Além de viva, esta poesia é nacional.
É mais dá-se no Brasil como cá: é racial.
Dá-se sob o sentimento republicano, é coeva dele; com ele cresceu.
Podem as nossas finanças
ect
etc…
penhor do que, se cairmos mais, levantar-nos-emos.
_______
Todos quantos, com os lhos marejados de lágrimas de súbita alegria, sentimos bater em nós, num impulso, como
[22r]
que tímido e arrepiado, por imenso e {…} que se sente, a alma inconfundível e sublime do Povo Português.
_______
O livro do sr. Alberto Caeiro é a causa ocasional deste artigo, que, – posta de parte, por inútil e {…} agora, a modéstia – nos parece de uma utilidade muito grande, dado que o queríamos compreender.
_______
O poeta torna-se sociólogo.
[22v]
Porque – e é por isto que este argumento a todos sobreleva – um povo realmente humilde, velho realmente, um povo cuja fraqueza e doença são as da velhice, cuja debilidade é decrepitude, é inteiramente incapaz – como um individuo nessas condições o é – não só de escrever[1] grandes coisas, mas de pensar grandes coisas novas, e muito menos de pensar grandes coisas novas mais em harmonia com o seu íntimo carácter do que as da sua juventude!
Por mal que esteja o povo português, não está prostrado, moribundo ou decrépito; mas está muito doente.
[23r]
Não só é fatal este argumento aos argumentos dos que nos julgam decadentes em absoluto, como o é aos argumentos monárquicos, por razões que adiante apontaremos. É mais forte este argumento profundamente sociológico – o único científico – a poesia da república, que tudo quanto até agora se tem dito.
_______
Estes argumentos são económicos, políticos, literários – sociológicos não são.
[1] escrever /pensar\