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Fundo
Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14B – 3-4
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Alberto Caeiro.
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
Alberto Caeiro.
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 14B – 3-4]

 

T.P.’s Weekly Academy Athenaeum Saturday Review The Southern

 

Alberto Caeiro.

 

The twentieth century has at last found its poet – not in the sense that this poet sings the 20th century, but in the sense that a poet has at last appeared who represents an absolute novelty, something altogether unconnected with literary traditions of any kind whatsoever. It is natural to say that the 20th. century has found its poet for no other reason than this – that the extraordinary originality of this poet happens in the 20th. century. The Rime of the Ancient Mariner in relation to its time is, if anything, less original than Alberto Caeiro’s astonishing volume – The Keeper of Sheep – (O Guardador de Rebanhos) which has just appeared in Lisbon.

No one in Portuguese literary milieux had ever heard of him. He appeared suddenly. And his contribution to Portuguese, and European literature, breaks away, as we have said from all traditions and currents that were valid in the past or are active to-day.

Alberto Caeiro is the poet of absolute materialism. This is his first originality; there never was, properly speaking, a poet of materialism… The second innovation is that Caeiro puts into his absolute materialism a poetical colour and intensity which we have been accustomed to find only in the highest spiritual[1] poetry.

   

[4r]

 

Things are to him absolute realities, more real even than our sensations of them, Thought is a disease. Poetic thought is an anomaly. Metaphysics is delirium. Mysticism is a kind of ennui. And, while he is absolutely and entirely (even dazzlingly) coherent in these theories, Caeiro cannot be described except as a great poet, as a thinker, as a master of poetic thought and expression, as a metaphysician in verse and as a mystic in fine. The resolution of the contradiction into a real and living unity of inspiration and of expression is the secret of his supreme greatness.

This language seems strange and strained. But that greatness is indisputable. Nothing can give an adequate idea of the originality of the work except total quotation of it. Even sustained quotation would entail a limiting of his {…} scope. No adjective except bewildering can describe the originality of his work.

It is the case of meeting things like this, the {…}th poem in the work:

 

Hallo, Keeper of sheep.

 

It is the case of finding philosophical statements of this kind:

 

Things have no meaning: things have existence

Thing therefore are the only occult meaning of things.

 

[3v]

 

Or this:

 

{…}

 

The book is full of things of this kind. It is nothing but things of this kind. There are things in the work that are among the supreme things of poetry. The great metaphysical poem (no. 5) where pantheism is dragged down into materialism and (he is the major of all) seems to be just by the full; the bewildering materialistic concept of Christ – the 8th poem – where after the most |*degrading draft of the moral image presumably| of Christ that has ever been found, the poem rises, through materialism (this is the {…}) into a {…} spiritualist; the small poems, each as truly as one |*concept| which is always the same and always different; the staggering materialistic denial of the reality of a whole called Nature:

 

Nature is parts without a whole.

 

And the 2 final poems, where the majesty and sobriety of verse reach a {…} not known until the summits of classical poetry – Caeiro is all this.

 

He strips things of their constant poetic reality. He seems not those who say that flowers smile, that rivers sing and that {…}

 

For mystic poets say {…}

 

[4v]

 

It is hopeless to give the reader anything resembling an idea of what this great poet, the greatest of all time, is. The best thing, though it is |*bad method|, is to quote the last two poems in the work. They are these:

 

XLVIII

XLIV

 

He reminds us of 2 poets – Whitman and the bucolic Francis Jammes. But Caeiro is undoubtedly above Jammes and even far beyond Whitman. Whitman is far below the constructive power {…}

Whitman is in every particle inferior to Caeiro.[2]

 

 

[BNP/E3, 14B – 3-4]

 

T.P.’s Weekly Academy Athenaeum Saturday Review The Southern

 

Alberto Caeiro.

 

O século XX finalmente encontrou o seu poeta - não no sentido em que esse poeta canta o século XX, mas no sentido de que apareceu finalmente um poeta que representa uma novidade absoluta, algo sem qualquer relação com tradições literárias de qualquer tipo. É natural dizer que o século XX encontrou o seu poeta por nenhuma outra razão do que esta - que a extraordinária originalidade deste poeta acontece no século XX. The Rime of the Ancient Mariner em relação ao seu tempo é, no mínimo, menos original que o surpreendente volume de Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos - que acaba de ser publicado em Lisboa.

Ninguém no meio literário português tinha ouvido falar dele. Ele apareceu de repente. E o seu contributo para a literatura portuguesa, e europeia, rompe, como já dissemos, com todas as tradições e correntes que foram válidas no passado ou que estão em actividade hoje.

Alberto Caeiro é o poeta do materialismo absoluto. Esta é a sua primeira originalidade; nunca houve, propriamente falando, um poeta do materialismo… A segunda novidade é que Caeiro coloca no seu materialismo absoluto uma cor e uma intensidade poética que nos habituamos a encontrar apenas na poesia espiritual mais elevada.

   

[4r]

 

As coisas são para ele realidades absolutas, mais reais até do que nossas sensações delas. O pensamento é uma doença. O pensamento poético é uma anomalia. A metafísica é um delírio. O misticismo é uma espécie de tédio. E, embora seja absoluta e inteiramente (até deslumbrantemente) coerente com essas teorias, Caeiro só pode ser descrito como um grande poeta, como um pensador, como um mestre do pensamento e da expressão poética, como um metafísico em verso e, por fim, como um místico. A resolução da contradição em uma unidade real e viva de inspiração e de expressão é o segredo de sua suprema grandeza.

Esta linguagem parece estranha e tensa. Mas essa grandeza é indiscutível. Nada pode dar uma ideia adequada da originalidade da obra, excepto a citação total dela. Mesmo uma citação continuada implicaria em uma limitação do seu {…} escopo. Nenhum adjectivo, excepto desconcertante, pode descrever a originalidade da sua obra.

É o caso de encontrar coisas assim, o {…} poema da obra: 

 

Olá, guardador de rebanhos. 

 

É o caso de encontrar afirmações filosóficas deste tipo: 

 

As coisas não têm significação: têm existência

As coisas são o único sentido oculto das coisas.

 

[3v]

 

Ou isto: 

 

{…}

 

O livro está cheio de coisas desse tipo. Não são nada além de coisas desse tipo. Existem coisas na obra que estão entre as coisas supremas da poesia. O grande poema metafísico (nº 5) onde o panteísmo é arrastado para o materialismo e (ele é o maior de todos) parece ser precisamente por completo; o desconcertante conceito materialista de Cristo - o 8º poema - onde depois do mais |*degradante esboço da imagem moral, presumivelmente| de Cristo que jamais se encontrou, o poema eleva-se, através do materialismo (este é o {…}) a um {…} espiritualista; os pequenos poemas, cada um tão verdadeiramente como um |*conceito| que é sempre igual e sempre diferente; a surpreendente negação materialista da realidade de um todo chamado Natureza: 

 

A Natureza é partes sem um todo.

 

E os 2 poemas finais, onde a majestade e sobriedade do verso atingem um {…} desconhecido até o ápice da poesia clássica - Caeiro é tudo isso. 

 

Ele tira as coisas de sua constante realidade poética. Não Se parece com aqueles que dizem que as flores sorriem, que os rios cantam e que {…} 

 

Porque os poetas místicos dizem {…}

 

[4v]

 

É inútil dar ao leitor qualquer coisa que se pareça com uma ideia do que é este grande poeta, o maior de todos os tempos. A melhor coisa, embora seja |* mau método|, é citar os dois últimos poemas da obra. São estes: 

 

XLVIII

XLIV 

 

Ele faz-nos lembrar 2 poetas - Whitman e o bucólico Francis Jammes. Mas Caeiro é, sem dúvida, superior a Jammes e está muito além de Whitman. Whitman está muito abaixo do poder construtivo {…}

Whitman é em todas as partes inferior a Caeiro.

 

 

[1] spiritual/(istic)\

[2] Votre livre, malheureusement pour moi autre qu’il parfois {…} le thème d’un livre, un †, “† et †” a rendu inutile un article que j’écrivais, sur les défauts |*d’orthographie|. Ce demeure ne vaut rien, et peut-être l’écrivais-je aucune. Mais, si ce n’est que pour suivre les développements critiques de votre belle thèse, je † le † dans vous † {…} quelles critiques contre lui a-t-il propos et où? Je voudrais surtout savoir {…}

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/3122

Classificação

Categoria
Literatura
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Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

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Idioma
Inglês

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
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Documentação Associada

Bibliografia
Publicações
Publicação parcial: Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer, Tomo II, Editorial Estampa, Lisboa, 1990, p. 398.
Publicação integral: Fernando Pessoa, Obra Completa de Alberto Caeiro, edição de Jerónimo Pizarro e Patrício Ferrari, Lisboa, Tinta-da-China, 2016, pp. 257-259.
Exposições
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