Identificação
[19 – 96]
Estética.
The Spasmodics.[1]
Mostram bem a diferença entre génio e talento, entre um poeta nato e um homem culto com imaginação. A beleza esporádica abunda nos espasmódicos, de forma às vezes a perturbar o crítico. Belezas, porém, de todo, não as possui este género de poeta.
No homem culto e imaginativo a imaginação é da superfície. Assim escreve poesia querendo muito melhor geralmente do que o verdadeiro poeta. Sirva, de exemplo o célebre desafio poético sobre o tema Nilo entre Leigh Hunt, Keats e Shelley. O resultado foi que os sonetos produzidos foram na razão inversa do valor dos que os produziram: o de Leigh Hunt é o melhor, segue-se depois a alguma distância o de Keats e perto deste, mas ainda assim ainda mais fraco o de Shelley. Shelley era aliás extremamente rápido e espontâneo na inspiração; veja-se porém em que deu quando quis escrever.
Sendo tão espontâneos era de esperar que os espasmódicos fossem bons líricos; é justamente o que não são. São os poetas líricos mais fracos da Inglaterra no século XIX. É nisto que se nota a sua fraqueza: é nisto que se nota que a sua espontaneidade é a do superficial e não a do imaginativo repentista. Este é sempre um lírico. O espasmódico nunca o é.
Tão-pouco são poetas narrativos, nem satíricos, nem de género nenhum. São poetas de frases, algumas extraordinariamente belas, de epítetos, alguns estranhamente aptos – mais nada.
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Analisando mais compreende-se que esse exclusivismo vem de uma facilidade em se adaptar o exterior no génio dos outros poetas, ou o que de formal bóia no meio artístico e literário; são realmente pasticheurs, mais ou menos hábeis. E o pasticheur é um homem que se adapta o pensamento ou sentimento de outro na sua forma. Se o adapta na sua essência não é já um pasticheur, mas um poderosíssimo intuitivo, que deve enveredar pelo caminho do drama, onde o seu génio deve ter lugar.
Essa imitação ou adaptação formal tem de resto seus limites. Se é muito exacta ou muito sustida, já não há imitação formal mas essencial, e temos portanto o intuitivo outra vez. Mas o que caracteriza os espasmódicos é que têm frases esplendidas, epítetos geniais, rasgos sublimes que são jóias – de diferentes procedências — encastoadas em metal vil.
? O que melhor escrevem é o soneto.
[1] Os Espasmódicos.