Identificação
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Estética.
As três qualidades fundamentais do artista são:
(1) A originalidade,
(2) a construtividade, e
(3) o poder de sugestão.
É vulgar haver confusões que obscurecem de todo o verdadeiro sentido destas palavras, e é absolutamente importante que essas confusões se desfaçam. Elas resultam, em geral, da adopção de um ideal artístico restrito, por via do qual se vicia a interpretação das coisas. Assim, muitos não sabem propriamente distinguir a originalidade da excentricidade; uma caracteriza o génio, outra manifesta o louco. E, no mesmo ponto, o mais frequente é não se saber avaliar bem a originalidade de autor, por não se saber, em geral, medir o valor das influências que ele recebe, de onde sucedem bastas vezes, o ser dado como plágio o que é legítima influência. Ora a originalidade é de três espécies: (a) de pensamento, (b) de modo de manifestar esse pensamento, (c) de modo de manifestar essa manifestação; temos, portanto, (a) originalidade ideativa, (b) originalidade formal, (c), originalidade...............
Os românticos confundem em geral o poder de construção com o poder de desenvolvimento, o qual, meramente por si, e desprovido da base de construção propriamente dita, não passa de uma mera facilidade retórica sem grande valor, salvo episódico.
Se nesses dois pontos são grandes os erros que se cometem, muito maiores são os de que enferma, quase sempre, o conceito geral de “poder de sugestão”. Por este termo desejo exprimir aquilo que no artista permite tornar inteiramente perspícua a sua intenção e a sua emoção. Importa muito – a distinção é de relevo capital – não confundir “poder de sugestão” com “compreensibilidade”, como importa não confundir perspicuidade com clareza. Sobre confusões destas assenta o erro que sempre houve, da parte das pessoas de escassa sensibilidade, na crítica aos poetas simbolistas e decadentes – todos aqueles que, no pleníssimo direito, foram perspícuos sem serem claros.
[2v]
O poder de sugestão tem que obedecer a três leis que o disciplinam:
(a) a verosimilhança,
(b) a intensidade,
(c) a perfeição plástica da obra (o acabado).
A construção da obra envolve três elementos:
(a) a harmonia do todo com as partes,
(b) a harmonia das partes entre si,
(c) a harmonia do todo como todo.