Virtual Archive of the Orpheu Generation

Databases Fernando Pessoa

Fernando Pessoa - Literary Theory

This digital edition of texts by Fernando Pessoa deals with the set of poetic theorizing writings from hisArchive and brings together essays, comments, notes, sketches and fragments about literature from the Portuguese author. The documents transcribed are in Fernando Pessoa’s Archive in the custody of the National Library of Portugal, with quota E3. All facsimiles are accompanied by a critical lesson and a paleographic transcription, which is available for download in the “PDF” field.

 

 

Medium
Fernando Pessoa
BNP-E3, 18 – 36–37
BNP-E3, 18 – 36–37
Fernando Pessoa
Identificação
Criticar

[BNP/E3, 18 – 36–37]

 

Criticar.

 

Falar – no sentido de falar para dizer qualquer coisa – é o modo mais simples de nos tornarmos desconhecidos.

 

A única coisa[1] mais deliciosa do que olhar um assunto por todos os lados para o compreender, é olhar um assunto por todos os lados para o não compreender. A voluptuosidade de ir cada vez compreendendo menos, de ir cada vez achando menos sentido e menos {…} a uma coisa – só podem sentir esta volúpia mística as almas nascidas para a compreensão. Quando digo isto quero dizer os críticos. Criticar uma coisa é ver nela coisas que lá não estão. Traçar paralelas na superfície da terra _ _ ­­_ _ É uma das grandes artes perdidas – como a de convencer. Quanto mais criticamos, menos criticamos. Começar a não haver crítica, de começar a haver crítica.

Ainda que sucintamente, eu explico.

Falar é o modo mais simples de nos tornarmos desconhecidos. Escrever – no sentido de escrever para expor qualquer

 

[37r]

 

coisa (esse tendo outro sentido que não o de fazer crítica no principal), é apenas um modo hipócrita e pretensioso de falar. Alguém que pusesse o que diz no gramofone, olharia à parte o mais visível cunho da verdade – desistiria de escrever.

 

– Para alguns, criticar é dizer o que sentimos perante uma coisa; para mim criticar é dizer o que não sentimos perante uma coisa. Para Oscar Wilde, por exemplo, criticar é sermos nós perante um assunto; para mim, criticar é sermos outras pessoas perante um assunto.  

 

 

[1] A única coisa /Das poucas coisas\

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2354
Classificação
Literatura
Crítica
Dados Físicos
Dados de produção
Português
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 42-44.