Jornalista, poeta e ficcionista, foi um íntimo amigo de Fernando Pessoa, e seu sócio, juntamente com Geraldo Coelho de Jesus, num ou mais escritórios de comissões e consignações (entre 1917-1926, pelo menos). Podemos, de certo modo, considerá-lo também um seu discípulo. O seu livro de poemas Quinto Império (1934), com um prefácio de Fernando Pessoa, traz à memória os versos de Mensagem e, inevitavelmente também, a profecia que o seu  autor (re)criou. O prefácio serve, inclusive, como explanação do próprio conceito de Quinto Império, distinguindo Pessoa duas ordens de profecias, que entre si se completam: umas que «têm em si uma grande luz» e «são o fio do labirinto»; outras que «têm em si uma grande treva» e são «o mesmo labirinto». É neste último grupo que inclui as profecias contidas no livro de Ferreira Gomes, que, em 1941, voltará ao tema, com No Claro-Escuro das Profecias, livro dedicado «à memória do astrólogo Fernando Pessoa». Também já em 1921, um outro livro de poemas, Processional, fora oferecido/ dedicado a amigos especiais, como Campos, o «Poeta-engenheiro», Pessoa, Geraldo de Jesus, Mário Saa ou Tagore, o ocultista hindu. O gosto pelo mistério e pelos estudos esotéricos é, sem dúvida, um dos elos da forte relação que une os dois amigos. Cite-se, por exemplo, o conhecido caso da Boca do Inferno e o pseudo-suicídio de Aleister Crowley, no qual Pessoa e Ferreira Gomes intervêm activamente. Ferreira Gomes estava, na época (1930), ligado ao Diário de Notícias, onde sai a notícia em 27 de Setembro, e é também da sua autoria a extensa reportagem sobre o assunto, do Notícias Ilustrado. Duas cartas de Ferreira Gomes para Pessoa, quando aquele se encontra em Paris, comprovam o conluio dos dois com o próprio Crowley. Esta mesma  cumplicidade se deixa perceber alguns anos antes, numa altura em que Ferreira Gomes dirige a secção «A cidade. As letras. As artes» no jornal A Informação e Pessoa, com a assinatura de Álvaro de Campos, envia uma resposta a um inquérito literário, promovido pelo jornal. A carta é aí publicada (17-9-1926), mas antecedida de uma outra que, entrando no jogo,  Ferreira Gomes dirige, por sua vez, a Álvaro de Campos. É também a Ferreira Gomes que Pessoa deve, em grande medida, o ter conseguido publicar a sua Mensagem, com vista ao concurso do SPN, em 1934. E a familiaridade entre os dois pode ser ainda atestada por um postal de Marcelle Ferreira Gomes, sua esposa, no qual intitula o amigo Pessoa de «Mon cher Mage Rouge», aludindo também aos serões passados a três. Ferreira Gomes contribuirá, já em 28-8-1950, com uma longa entrevista concedida ao Diário da Manhã, para desfazer alguns equívocos sobre a biografia do poeta, que a obra de Gaspar Simões, na mesma ocasião, pusera a circular. Ferreira Gomes é ainda autor de um livro de contos, Múmia Assassina, a que Sá-Carneiro se refere como «uma interessante mixórdia», que vale apenas pelas influências interseccionistas que denota (carta de 22-2-1916). E dirigiu, com o nome de Augusto de São Boaventura, a revista Fama (1932-1933), na qual Pessoa publicou «O Caso Mental Português» (nº1) e «O que um milionário americano fez em Portugal – A Colónia Infantil Macfadden em S. João do Estoril» (n.º 4).
 

 

Manuela Parreira da Silva