Jornal fundado em 1919 (nº 1, de 1 de Maio), órgão do Núcleo de Acção Nacional, tem como responsáveis Geraldo Coelho de Jesus (director), Carlos de Noronha (editor) e Fernando Pessoa, seu principal, senão único redactor. Apesar de se propor como quinzenário, só os dois primeiros números cumprem o desiderato, já que o n.º 3 sairia apenas em Agosto e nº 4 e último traz a data de 27 de Fevereiro de 1920. A correspondência para Geraldo de Jesus dá conta do visível entusiasmo com que Pessoa acolhe o projecto, mas também das  dificuldades (logísticas, financeiras, etc.) com que se foram confrontando e que, a breve trecho, ditariam o seu encerramento. A maior dificuldade residiria no facto de ser Pessoa que praticamente fazia todo o trabalho, pois, além de escrever os artigos mais substanciais, tinha ainda de cuidar das relações com a tipografia e da distribuição. A título de exemplo, pode ler-se uma carta de 13-8-1919, na qual Pessoa enumera exaustivamente a Geraldo, ausente em Porto de Mós, tudo o que tenciona fazer quanto à expedição do jornal para as províncias, lamentando: «E isto tenho eu de fazer tudo sozinho, e com cartas sobre cartas que fazer aqui no escritório do Ávila, e com assuntos meus que tratar, e todos estes dias estar no Diário de Notícias [em cuja tipografia o jornal era impresso] às 8 da manhã, etc. etc.!». No último número, o director justifica, em editorial, o encerramento da publicação por «ser impossível (dados outros afazeres) dedicar-lhe aquela somma de actividade que a sua boa redacção exige», mas acrescenta  também um outro motivo: «um certo desalento, proveniente, pelo que toca á nossa campanha a favor do fomento nacional, da noção de inutilidade (…) de uma campanha dessas se fazer sem se apoiar numa corrente política; e, sendo assim, pela noção da perfeita desunião das forças conservadoras, que representam a única corrente politica em quem pensa como nós, patriótica e praticamente, se podia filiar».  Geraldo de Jesus refere-se ao assumido sidonismo do jornal (numa altura em que Sidónio Pais já tinha morrido) e à sua tentativa de dar voz à política que o seu mentor não pudera concretizar. O n.º 3 do jornal desfizera já qualquer dúvida que pudesse existir a respeito desta filiação doutrinária, ao inserir uma fotografia do «Grande Morto», a toda a extensão da 1ª página, provocando (para gáudio de Pessoa) tumultos nas ruas de  Lisboa, com queima de muitos exemplares do jornal, e manifestações de fúria dos sectores democráticos. O poeta diz até, numa carta a Geraldo (10-8-1919): «Os democráticos que eu conheço estão indignadíssimos comigo. Um, que foi secretário do Leonardo Coimbra, manifestou-se muito desgostoso (…) por lhe constar que eu não só “era da Acção”, mas andava mesmo a fazer as vezes do director». Os dois primeiros números deixavam perceber a sua carga ideológica, incluindo um editorial (n.º 1), em que se afirma a intenção, nacional e não-partidária, de actuar «no sentido de estabelecer uma resistência social que, pelo menos, attenue e corrija os erros e excessos dos partidos»; ou um outro (n.º 2), em que se considera absurdo «pretender que o povo governe» e se apela à criação de uma «elite competente, capaz de governar, de administrar, de nos repôr na civilização». Mas, para além da questão ideológica, o que importa salientar é o empenhamento dos promotores do jornal num verdadeiro desenvolvimento económico e social do país. O primeiro número insere dois artigos importantes: «Bases para um plano industrial» de Geraldo Coelho de Jesus e «Como organizar  Portugal» de Fernando Pessoa. No primeiro, propõem-se medidas como a educação profissional, o crédito às empresas, a exploração mineira, o aproveitamento hidroeléctrico. Tomando como modelo a Alemanha, Pessoa propõe, por sua vez, uma acção sobre a sociedade portuguesa, de modo a «produzir uma transformação mental da maioria do povo, de todo o povo mesmo», pelo fim da estagnação e do atraso, pelo reforço da coesão social e do patriotismo, e uma transformação profissional, pela industrialização do país e pela educação «da inteligência e da vontade». No n.º 2, Pessoa colabora com um longo artigo de fundo, «A Opinião Pública», que continua nos dois números seguintes, onde tenta demonstrar como a democracia moderna é inimiga da opinião pública, pelo seu carácter anti-social, antinacional e antipatriótico. Em 10 de Agosto, Pessoa avisa Geraldo de Jesus de que está a planear um n.º 4 «sensacional e forte», mas a sua saída seria protelada até Fevereiro do ano seguinte, acabando mesmo por não chegar ao público. O poema «À Memória do Presidente-Rei Sidónio Pais» constituiria a anunciada sensação, sendo a melhor síntese do pensamento de Pessoa sobre o sidonismo, mais valorizado enquanto gerador de esperança e indicador de um rumo para Portugal do que  pela concretização de uma política.

Manuela Parreira da Silva