Antonio Machado (Sevilha, 1875 – Collioure, França, 1939), poeta e narrador, é o escritor espanhol de princípios do século XX que melhor revela na sua obra a preocupação pela exploração do carácter plural do “eu” como traço de sintonia com as correntes estéticas da modernidade europeia pre-vanguardista do momento. Depois dos versos de Soledades (1903), Antonio Machado vai construindo através de Soledades, galerías y otros poemas (1907) e de Campos de Castilla (1912) uma voz genuína e inigualável no contexto da lírica espanhola, entendendo a poesia como a “palabra en el tiempo” que o leva a tomar elementos do modernismo hispânico e outros ideologicamente afins à geração de 98, para construir una poesia de traços inconfundíveis que tem sabido envelhecer com o passar dos anos.
O seu tom intimista e lucidamente melancólico mantém-se até 1928 e 1933, quando as edições das suas Poesías completas proporcionam a aparição de dois poetas apócrifos: Juan de Mairena e Abel Martín, que acompanharam a presença de um Antonio Machado ortónimo, resultado do seu esforço de aprofundar as relações entre os diferentes pólos da voz poética. Abel Martín é o mestre de Mairena, que seria, por sua vez, qualquer coisa como o “yo filosófico” do seu autor. Apesar de a sua produção apócrifa não ser muito abundante, é através de Mairena (cujas afirmações e apontamentos de “profesor apócrifo” seriam recolhidas em 1936), que Antonio Machado se ergue como um dos prosadores mais originais da sua geração, que disseca com uma perspectiva inovadora os diferentes aspectos da sociedade, da cultura, da política ou da filosofia da Espanha do seu tempo, sempre dum ponto de vista lúcido e irónico.
AAVV, Antonio Machado: el poeta y su doble, Barcelona, Publicacions universitat de Barcelona, 1989.
Lourenço, António Apolinário, Identidade e alteridade em Fernando Pessoa e Antonio Machado, Braga, Ángelus Novus, 1995.
Doménech, J. (coord..), Hoy es siempre todavía. Curso internacional sobre Antonio Machado, Sevilha, Renacimiento, 2006.
ANTONIO SÁEZ DELGADO