Álvaro Carvalho de Sousa Ribeiro nasceu em 1905, Porto, e faleceu em 1981, Lisboa. Frequentou a primeira Faculdade de Letras do Porto, onde se vinculou a Leonardo Coimbra e a Teixeira Rego, e nela concluiu em 1931 o curso de Ciências Histórico-Filosóficas. Participou activamente nas derradeiras actividades da Renascença Portuguesa, ainda que não tenha chegado a colaborar nas últimas séries do seu órgão, a revista A Águia. Assim como assim, a sua assiduidade na livraria da Renascença Portuguesa, à Rua dos Mártires, levou-o a dirigir com Adolfo Casais Monteiro e Manuel Maia Pinto a última nova publicação da Renascença, a revista Princípio (1930), que, por uma aproximação à Seara Nova e à revista Presença, se propunha combater nas novas gerações a influência do Integralismo Lusitano e do pensamento reaccionário e anti-democrático.
Dois anos depois, dispersos os discípulos de Leonardo Coimbra e encerradas de vez as portas da Faculdade de Letras do Porto, fechadas ainda as duas últimas publicações da Renascença Portuguesa, as revistas A Águia e Princípio, e desfeita a sociedade cultural portuense, surge em Lisboa o manifesto da Renovação Democrática assinado por Álvaro Ribeiro e Pedro Veiga. O movimento depressa se tornou um pólo de atracção para os antigos alunos da Faculdade de Letras do Porto ou para os colaboradores mais novos da revista A Águia, como Domingos Monteiro e Eduardo Salgueiro, acabando por se tornar no herdeiro que melhor procurou prosseguir e interpretar em novo contexto, o do Estado Novo, os ideais democratistas da Renascença Portuguesa. As movimentações duraram até 1943, ano em que Álvaro Ribeiro se estreou em livro com O Problema da Filosofia Portuguesa, dedicado a José Marinho e publicado por Eduardo Salgueiro na Editorial Inquérito. Com o opúsculo, procurou Álvaro Ribeiro desenhar a Filosofia Portuguesa como movimento cultural herdeiro da Renascença Portuguesa, mas sublinhando desta vez, quase em exclusivo, as fontes esotéricas ou acroamáticas em detrimento das sociais ou das cívicas.
Depois disso, nos anos ímpares, com uma regularidade quase matemática, publicou Álvaro Ribeiro até ao fim da vida uma vasta obra de prosador, de pedagogo, de hermeneuta e de memorialista, em que pretendeu por um lado actualizar um racionalismo aristotélico muito atento aos problemas da linguagem verbal, no qual via a genuína matriz do pensamento português, desde Pedro Hispano ou de Álvaro Pais (sec. XIV), e por outro magistralizar a tradição esotérica do saber, sobretudo judaico-cabalista, na qual inseria a renovação moderna do pensamento português, começada para ele com Sampaio Bruno.
Nesse sentido, atendendo à sua dupla filiação racionalista e ocultista, o poeta português moderno que mais vivamente interpelou o Álvaro Ribeiro pensador de enigmas foi Fernando Pessoa. Dele compilou em volume os textos publicados na revista A Águia em 1912, dedicados à poesia saudosista; a recolha, A Nova Poesia Portuguesa (1944), foi a primeira compilação de dispersos do poeta e antecedeu muitas outras iniciativas do género, a primeira das quais a recolha de Jorge de Sena, Páginas de Doutrina Estética (1945), que contou com larga e generosa colaboração de Álvaro. Assinale-se por fim a coincidência, decerto consciente, se não procurada, entre as iniciais da “Filosofia Portuguesa” e as de Fernando Pessoa.
Bib: DOMINGUES, Joaquim, Filosofia Portuguesa para a Educação Nacional. Introdução à Obra de Álvaro Ribeiro, Lisboa, Fundação Lusíada, 1997; GALA, Elísio, A Filosofia Política de Álvaro Ribeiro, Lisboa, Fundação Lusíada, 1999; GOMES, Pinharanda, “Álvaro Ribeiro: Da Renascença Portuguesa à Filosofia Portuguesa”, in O Pensamento e a Obra de José Marinho e de Álvaro Ribeiro, vol. II [inteiramente dedicado a Álvaro Ribeiro], VV. AA., Lisboa, IN-CM, 2005, pp. 9-58.
António Cândido Franco