José Sobral de Almada Negreiros nasce a 7 de Abril de 1893, em S. Tomé, na Roça Saudade. Seu pai, António Lobo de Almada Negreiros, natural de Aljustrel (nascido em 1868), poeta, jornalista, autor da Historia Ethnographica da Ilha de S. Thomé, foi administrador do concelho entre 1890 e 1899. Sua mãe, Elvira Freire Sobral (nascida em 1873) era filha de um proprietário rural e neta de uma negra angolana. Educada no Colégio das Ursulinas, em Coimbra, tinha grande habilidade para o desenho.
No início de 1895 nasce o irmão, António, com quem manteve forte ligação durante toda a vida. Em Abril, a família embarca para Lisboa, ficando os dois irmãos na casa dos avós e tios maternos, em Cascais, depois do regresso dos pais a S. Tomé, a 23 de Novembro. Um ano mais tarde morre a mãe, com 24 anos, quando esperava um terceiro filho. Em 1900, o pai é nomeado para organizar o Pavilhão das Colónias Portuguesas na Exposição Universal de Paris, cidade onde fica a residir e volta a casar. Almada é agora aluno interno no colégio dos Jesuítas de Campolide, em Lisboa. Aí passa grande parte do tempo até 1910, frequentando assiduamente a vasta biblioteca, e destaca-se pela sua aptidão para a escrita e para o desenho, reconhecida pela atribuição de um quarto individual, que usa como atelier. Dessa altura datam os jornais manuscritos O Progresso, A República, O Mundo e A Pátria, que redige e ilustra (1905).
Com a implantação da República em 1910, e o encerramento do Colégio de Campolide, vem a frequentar o Liceu de Coimbra, vivendo com o irmão em casa de um amigo do pai. Um incidente ocorrido com o seu anfitrião obriga-o a regressar à capital, em 1911, ingressando, também em internato, na Escola Internacional.
A 1 de Junho de 1911 estreia-se como desenhador humorista (com Razão Ponderosa, na revista lisboeta A Sátira), actividade que prosseguirá durante 1912 e 1913 — nos periódicos A Bomba, A Luta, A Manhã, A Rajada, O Século Cómico e A Capital — e enquanto participante dos I e II Salões dos Humoristas Portugueses. Paralelamente, inicia a sua actividade literária: em 1912 escreve as peças O Moinho (texto perdido) e 23, 2.º Andar; e em 1913, o poema Rondel do Alentejo (publicado em 1922 na Contemporânea). Em 1913 pinta os seus primeiros óleos (destinados à Alfaiataria Cunha) e realiza a primeira exposição individual (na Escola Internacional de Lisboa), referida por Fernando Pessoa nas páginas dum diário (1/3/13) — «Fui com o Almada Negreiros ao quarto dele ver os trabalhos para a exposição; achei muito bons.» — e ainda por este criticada nas páginas d’A Águia (Abril): «Almada Negreiros pertence aos satiristas que se aplicam a dar a futilidade das coisas. […] Não tem ódios nem desprezos, pelo menos artisticamente […]. Ele observa interessadamente, mas não traz, pelo menos por enquanto, sentimentos profundos para a sua observação. […] Que Almada Negreiros não é um génio — manifesta-se em não se manifestar. […] Mas que este artista tem brilhantismo e inteligência, muito e muita — eis o que está fora de se poder querer negar. Mas terá talento? […] Eu creio que ele tem talento. Basta reparar que ao sorriso do seu lápis se liga o polimorfismo da sua arte para voltarmos as costas a conceder-lhe inteligência apenas». No catálogo do II Salão dos Humoristas Portugueses (Junho de 1913) — que inclui um retrato de Pessoa por Almada (O Senhor Fernando Pessoa, vulgo «o Pessoa») — o jovem artista responde às palavras do crítico, dizendo: «A data mais memorável da minha individualidade será por certo a de 1993, quando universalmente se festejar o centenário do meu nascimento. Quanto ao meu indiscutível talento, preciso é dizer que o descobri no dia em que fiz ao meu barbeiro proibição de cortes à escovinha no meu cabelo.»
Assim se estabelecem as relações de Almada com Fernando Pessoa e com aqueles que viriam a ser os seus companheiros de Orpheu. Ainda em 1913, Almada ilustra um poema de Mário de Sá-Carneiro, Rodopio (Ilustração Portuguesa, 29/12), e no verão de 1914, projecta uma viagem a Paris, não realizada, que Sá-Carneiro refere numa carta a Fernando Pessoa (5/7/14). Em Março do mesmo ano publica pela primeira vez um poema, Silêncios, com a indicação «Do livro Frisos a sair brevemente». É com este título, Frisos, que o «desenhador José de Almada Negreiros» inicia a colaboração poética na revista Orpheu, em Março de 1915. Nesse ano — data de Orpheu, do número espécimen da Contemporânea (para o qual faz a capa), e da chegada a Portugal dos pintores Sonia e Robert Delaunay (com quem mantém um estreito contacto até 1917) — a produção literária de Almada intensifica-se e toma o rumo das vanguardas: começa a escrever A Engomadeira — Novela Vulgar Lisboeta (dedicada a José Pacheco e a Sonia Delaunay, e publicada em 1917); redige o Manifesto Anti-Dantas e por Extenso («Por José de Almada-Negreiros Poeta d’Orpheu Futurista e Tudo», publicado em 1916); e, enquanto «Poeta Sensacionista e Narciso do Egipto», escreve o poema A Cena do Ódio (1915), dedicado a Álvaro de Campos, e destinado ao terceiro número de Orpheu. Ao referir-se à Cena do Ódio, numa carta a Armando Côrtes-Rodrigues (4/9/16), Fernando Pessoa revê a opinião que, anos antes, tecera sobre o artista: «Almada Negreiros […] está actualmente homem de génio em absoluto, uma das grandes sensibilidades da literatura moderna». No mesmo sentido, no «Prefácio para Uma Antologia de Poetas Sensacionistas», Álvaro de Campos consideraria que Almada Negreiros, «more spontaneous and rapid», «younger than the others, not only in age, but in spontaneity and effervescence», «is none the less a man of genius. […] His is a very distinct personality, and the wonder is how he came about it so early».
Nos anos que seguem a escandalosa publicação de Orpheu Almada procurará encontrar, entre os movimentos de vanguarda europeus, o rumo da sua individualidade artística (plástica e literária), e o caminho de uma Arte Portuguesa digna da «pátria portuguesa do século XX» (Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX, 1917). O pintor Amadeo de Souza-Cardoso — com quem edita K4 O Quadrado Azul (1917) e a quem dedica o poema Litoral (1916) — considerado «a primeira Descoberta de Portugal na Europa no Século XX» (Manifesto Exposição Amadeo de Souza-Cardoso Liga Naval de Lisboa, 1916), mostra-lhe a via da arte moderna: na sua segunda exposição individual, na Galeria das Artes de José Pacheco (Setembro de 1916), Almada não é mais o caricaturista, o humorista dos Salões, mas o artista provocador de Uma Inglesa na Praia (representada por um traço perpendicular erguendo-se de uma linha horizontal) e de Cena num Túnel (uma tábua quadrangular pintada de preto). O rótulo futurista, assumido por Almada, juntamente com Santa Rita Pintor — no seio do «Comité Futurista»; na 1.ª Conferência Futurista (Teatro República, 14/4/17); no Portugal Futurista (Novembro de 1917); ou no jornal Heraldo, de Faro — é adoptado provocatoriamente como estandarte da modernidade e da luta contra o passadismo. Aliás, a própria colaboração de Almada no Portugal Futurista, que surge, na prática, como espaço de difusão e de experimentação vanguardista, distancia-se do movimento marinettiano: para além de um Ultimatum Futurista fundamentalmente centrado na criação da «pátria portuguesa do século XX», Almada oferece-nos o texto Saltimbancos (Contrastes Simultâneos), em clara sintonia com Sonia e Robert Delaunay, ou ainda o manifesto em defesa d’Os Bailados Russos, co-assinado por Pacheco e Ruy Coelho.
Em Dezembro de 1917 e Janeiro de 1918 Almada assiste às representações lisboetas dos Ballets Russes, que o marcam profundamente. O ano de 1918, sob a influência destes (e de um certo primitivismo trazido por Larionov, colaborador da companhia), e devido à falta dos seus antigos companheiros de vanguarda (Amadeo e Santa Rita morrem ambos em 1918), constitui um momento decisivo na génese de uma poética da ingenuidade, aqui essencialmente ligada à infância, à imaginação e à espontaneidade, enquanto elementos essenciais de criação, e amplamente desenvolvida em Paris, entre 1919 e 1920. Na esteira daqueles espectáculos, Almada anima uma série de bailados (enquanto coreógrafo, dançarino, autor de cenários e figurinos) representados por bailarinos amadores e por crianças, e em particular, pelas jovens Lalá, Tareca, Zeca e Tatão, que, com Almada, formam o «Club das Cinco Cores» — criado em 1918 e intimamente relacionado com a produção ulterior, e «ingénua», do artista. Citemos, nomeadamente, O Jardim da Pierrette (Junho de 1918), com argumento de Tareca (que também dança, ao lado de Lalá, Zeca e Tatão) e com coreografia, cenários e figurinos de Almada Negreiros.
Em Janeiro de 1919 Almada parte, finalmente, para Paris. Vive com dificuldades, sem o auxílio do pai que ali se instalara há anos, trabalhando como bailarino de salão e empregado de armazém. Fora da estrutura das academias livres e dos ateliers, prossegue sozinho a sua aprendizagem, convivendo com Max Jacob, Picasso, Brancusi, e outros modernistas. Dedica-se intensamente ao desenho, marcado agora por uma estilização expressiva e distanciada da realidade — transfigurada num universo gráfico de linhas traçadas pelo poeta. Passa a assinar com o «d» de haste alongada, assinatura desenhada de poeta-pintor, finalmente uno. Troca correspondência com as meninas do «Club das Cinco Cores», a quem envia poemas, desenhos e caligramas (a publicação das cartas de Almada e do diário de Lalá está a cargo de Joana Morais Varela, na Colóquio/Letras). Escreve o poema Histoire du Portugal par cœur (publicado em 1922 na Contemporânea), evocação mítica da pátria distante, de uma origem perdida e recriada através da palavra, texto-estreia da ingenuidade.
Regressa a Lisboa em Abril de 1920 e realiza, com desenhos de Paris, a sua terceira exposição individual (Maio, Teatro S. Carlos). Anuncia, no âmbito da exposição, A Invenção do Dia Claro, manifesto poético da ingenuidade, conferência realizada apenas em Março de 1921, e publicada em Dezembro pela editora Olisipo, de Fernando Pessoa (que traduz parte do texto para o inglês). Durante os anos vinte publica Pierrot e Arlequim (1924) e começa a escrever Nome de Guerra (1925); colabora na Contemporânea, de José Pacheco, na Athena, de Fernando Pessoa, e no Diário de Lisboa; participa na Exposição dos Cinco Independentes (1923), e nos I e II Salões de Outono (1925 e 1926); pinta Auto-Retrato num Grupo e Banhistas, para a Brasileira do Chiado (1925), e um Nu Feminino, para o Bristol Club (1926); integra o grupo de artistas «novos» que Pacheco tenta, em vão, fazer entrar na Sociedade Nacional de Belas-Artes; e vive cada vez mais desgostoso com a arte em Portugal. Em 1926, numa conferência significativamente intitulada Modernismo, Almada constata que «é viver que é impossível em Portugal», e resume, assim, os anos passados em Lisboa depois do regresso de Paris: «Vinha à procura de Artistas, de amigos que fossem da minha pátria. […] Encontrei os meus amigos […] o que não encontrei foram os artistas avançados […]. Eu buscava camaradas, artistas compatriotas iguais a mim, companheiros leais sem o que a ideia não caminha nem se multiplica. Efectivamente algumas coragens novas e decididas surgiram […]. Dir-se-ia que o mesmo valor do nosso primeiro grupo e com novas vontades ressurgia para a luta travada em terras de Portugal. Mas […] apesar do público, a imprensa e a crítica nos tratarem como se efectivamente entre nós houvesse sólidos compromissos e entendimentos […], afinal não havia acerca do novo conjunto senão um deplorável equívoco, um mal-entendido sem remédio. […] As novas afirmações não eram senão uma repetição sem o fogo sagrado do aparecimento espontâneo do grupo inicial, uma paródia ridícula mais digna de inimigos do que de seguidores de uma ideia que teve heróis generosos».
Em Março de 1927 Almada despede-se novamente de Lisboa, e parte rumo a Madrid (que visitara já em 1924). Durante os cinco anos ali passados participa activamente na cena artística e literária espanhola. Frequenta as tertúlias do café Pombo, onde pontifica o escritor de vanguarda Ramón Gómez de la Serna (de quem ilustra dezenas de textos e com quem colabora, como autor dos cenários, na peça Los Medios Seres, cuja estreia, em 1929, provoca escândalo); e do café Granja «El Henar», onde convive com os arquitectos Luis Lacasa, García Mercadal, José Luis Durán de Cottes, José María Rivas Eulate, Manuel Sanchez Arcas e Eduardo Lozano Lardet (que projecta o Cine San Carlos e o Teatro Muñoz Seca, com decorações murais de Almada Negreiros). Colabora assiduamente, sobretudo como ilustrador, em diversas publicações periódicas espanholas — La Gaceta Literaria, Revista de Occidente, Nuevo Mundo, La Esfera, El Sol, Blanco y Negro, La Farsa e La Novela de Hoy — e inicia, ainda em Madrid, a sua colaboração na revista coimbrã presença — folha de arte e crítica. Expõe individualmente na Unión Ibero-Americana (1927), realizando, no âmbito desta exposição, a conferência El Dibujo, publicada depois em português. Participa ainda na exposição de manuscritos da Fiesta del libro (1927), com «ensayos y dibujos»; na exposição inaugural das Galeries Dalmau de Barcelona (1927); na Exposición de Arquitectura y Pintura Moderna de San Sebastián (1930); e na Exposición de Pintura y Escultura Moderna de San Sebastián (1931); eventos onde aparecem, também, os nomes de Juan Gris, Miró e Picasso. Os seus desenhos da altura adquirem uma dimensão quase pictórica (e menos gráfica): a linha perde a supremacia, e os contornos das figuras esvanecem-se em jogos de luz, definidos por um sombreado delicado. Em Madrid, Almada escreve El Uno — Tragedia de la unidad, conjunto de duas peças depois reescritas em português, Deseja-se Mulher (editada em 1959) e S.O.S. (de que se conhece o II acto, publicado em 1935 em Sudoeste), onde ganha corpo a tese da unidade entre indivíduo e colectividade, exposta em 1932, em Lisboa, na conferência Direcção Única.
Regressa a Lisboa em Abril de 1932, e em Junho profere Direcção Única (publicada em Julho e dedicada a José Luis Durán de Cottes): «Hoje nasce o mundo outra vez, desde o princípio. […] Temos de fazer tudo outra vez: a colectividade e o indivíduo. Esses dois valores iguais, recíprocos, que dependem um do outro e que isoladamente se suicidam por suas próprias mãos. E é esta, minhas senhoras e meus senhores, a grande tragédia da unidade: Não há indivíduos porque não existe a colectividade e não há colectividade porque não existem os indivíduos. […] Queremos a colectividade portuguesa à altura de si própria, vista de todos os lados da terra. Que cada português, dentro ou fora da nossa terra, seja o perfeito indivíduo da nossa própria colectividade. Estamos todos incondicionalmente ao lado da colectividade portuguesa passo a passo, egoistamente, como quem sabe exactamente o sítio onde está a sua própria vida de indivíduo português.» Almada, enquanto artista, «apolítico voluntário» como ele próprio se descreveria mais tarde, exprime uma esperança e um alerta, no momento em que uma nova situação política se define em Portugal, situação que pôde parecer-lhe favorável mas que depressa viria a desiludi-lo: «Foi substituído Portugal pelo nacionalismo / que é a maneira de acabar com partidos / e de ficar talvez o partido de Portugal / mas não ainda apenas Portugal! / Portugal fica para depois / e os portugueses também / como tu», diria ele numa Ode a Fernando Pessoa (escrita depois da morte do poeta). O mesmo tema, da necessária inter-relação entre o indivíduo (e o artista em particular) e a colectividade, relação difícil e quase impossível no quadro português, surge repetidamente ao longo do tempo: nas conferências Arte e Artistas (Janeiro de 1933), Embaixadores Desconhecidos (Fevereiro de 1933), ou Cuidado com a Pintura! (Março de 1934); em artigos como «S.O.S. Belas-Artes» (Vida Contemporânea, Maio de 1934); ou na revista Sudoeste, fundada em 1935 pelo artista.
Em Março de 1935, no âmbito da I Exposição Oficial de Arte Moderna organizada por António Ferro (figura ligada à geração de Orpheu, director do Secretariado de Propaganda Nacional, criado em 1933), Almada, recusando participar na exposição, apresenta a conferência Os Artistas Raridades de Excepção e Outras Palavras Alto e Bom Som, regozijando-se por ver, «pela primeira vez», «os poderes públicos ao lado da arte mais nova de Portugal», e obedecendo a um «ardente desejo de que em Portugal nunca mais nenhum artista português tenha de passar vicissitudes, como as passadas por [ele] na [sua] pátria». Esperançado no futuro, que lhe traria de facto, graças a António Ferro, novas perspectivas de trabalho e de reconhecimento, Almada recorda os seus «queridos companheiros», «os mais variados e completos valores de portugueses», «mortos uns, destroçados outros, asfixiados todos», numa pátria que, durante vinte anos, os não soube reconhecer e albergar.
Em Novembro de 1935 morre Fernando Pessoa, o último dos seus mais próximos companheiros de Arte. Ficava por concluir o projecto de ilustração da Mensagem, de que apenas se conhecem três desenhos, publicados no Diário de Lisboa. E se «Orpheu continua» — segundo as palavras de Pessoa publicadas no terceiro número de Sudoeste (dedicado ao antigo grupo) — é, agora, com Almada Negreiros sozinho.
Detentor da sua «personalidade» artística e de alguma estabilidade — emocional (graças ao casamento com a pintora Sarah Affonso em Março de 1934) e financeira (graças, sobretudo, às encomendas públicas que vai recebendo) —, Almada prossegue sozinho o caminho aberto pelos seus camaradas de ontem, recordados ao longo da vida: logo após a morte de Pessoa publica «Fernando Pessoa, o Poeta Português», acompanhado de um retrato do poeta, e escreve a Ode a Fernando Pessoa; em 1945 escreve «Algumas Palavras» acerca do 30.º aniversário do Orpheu, no jornal República; em 1954 pinta um Retrato de Fernando Pessoa para o Restaurante Irmãos Unidos e, dez anos mais tarde, uma réplica destinada à Fundação Calouste Gulbenkian; em 1965, comemorando o cinquentenário da revista fundadora do modernismo potruguês, publica o livro Orpheu 1915-1965.
Almada viria a ser o romancista consagrado de Nome de Guerra (que se edita em 1938 como primeiro número da Colecção de Autores Modernos Portugueses, dirigida por João Gaspar Simões); o dramaturgo aplaudido de Antes de Começar (peça estreada em 1949) e de Deseja-se Mulher (estreada em 1963); o pensador e ensaísta de Ver (1943, publicado em 1982), de Mito — Alegoria — Símbolo (1948), e de A Chave Diz: Faltam Duas Tábuas e Meia no Todo da Obra de Nuno Gonçalves (1950); e finalmente, o pintor premiado (Prémio Columbano em 1942, Prémio Domingos Sequeira em 1946, e Prémio Diário de Notícias — Artes Plásticas em 1966) dos frescos das Gares Marítimas de Alcântara (1943-45) e da Rocha do Conde de Óbidos (1946-49), e do painel Começar (1968-69) para o átrio da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1963 é publicado o primeiro livro sobre a sua obra: Almada Negreiros, escrito por José-Augusto França em 1959 e editado em Lisboa pela Artis. Em 1966 Almada é eleito membro honorário da Academia Nacional de Belas-Artes, e um ano depois é-lhe atribuído o Grande Oficialato da Ordem de Santiago e Espada. Em 1970 estabelece os critérios gerais para a organização das suas Obras Completas, a publicar pela Editorial Estampa, e morre a 15 de Junho desse ano, em Lisboa, no Hospital de S. Luís dos Franceses, no mesmo quarto que Fernando Pessoa.
Bibl.: FRANÇA, José-Augusto, Amadeo & Almada, Venda Nova, Bertrand Editora, 1986; Almada. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian — Centro de Arte Moderna, 1984; El Alma de Almada el Impar: Obra Gráfica, 1926-1931. Lisboa, Galeria Palácio Galveias, 2004.
Sara Afonso Ferreira e Luis Manuel Gaspar