[BNP/E3, 14D – 1]
11-XI-34
Camilo Pessanha.
A cada um de só três poetas, no Portugal dos séculos dezanove e vinte, se pode aplicar o nome de “mestre”. São eles Antero de Quental, Cesário Verde e Camilo Pessanha. Concedendo que se lhes anteponham outros quanto ao mérito geral; não concedo que algum outro se possa antepor a qualquer deles nesse abrir de um novo caminho, nessa revelação de um novo sentir[1], que em matéria literária, propriamente constitui a mestria. É mestre quem tem que ensinar; só eles, na poesia portuguesa desse tempo, tiveram que ensinar.
[1v]
O primeiro a pensar em ritmo; descobriu-nos a verdade de que o ser imbecil não é indispensável a um[2] poeta. O segundo ensinou a observar em verso; descobriu-nos a verdade de que o ser cego, ainda que Homero em lenda o fosse e Milton em verdade se o tornasse, não é qualidade necessária a[3] quem faz poemas. O terceiro ensinou a sentir veladamente; descobriu-nos a verdade de que para ser poeta não é mister trazer o coração nas mãos, senão que basta trazer nelas |bem expostos| os |doidos| sonhos dele.
Estas palavras que são nada, bastam para apresentar a obra do meu mestre Camilo Pessanha. O Mais, que é tudo, é o Camilo Pessanha.
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[1] sentir /sentido\
[2] a um /para se ser\
[3] a /em\